Vencedores do VI Concurso Tim Lopes recebem capacitação em São Paulo
A falta de dados e estatísticas sobre o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes é a principal dificuldade encontrada hoje por jornalistas para abordar o assunto. Este foi um dos pontos discutidos na capacitação do VI Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizada nos dias 17 e 18 de abril, em São Paulo, e organizada pela Childhood Brasil e ANDI, com os jornalistas vencedores. “Ainda falta a unificação da base nacional de dados sobre violência sexual, porque não há cruzamento de informações dos diversos setores e regiões do País”, afirma a socióloga Graça Gadelha, especialista em infância e juventude, e palestrante da oficina.
Além de expor os desafios para o enfrentamento da violência sexual no Brasil, Graça Gadelha também explicou o histórico de atuação da sociedade civil e das ferramentas legais que estão relacionadas à proteção dos direitos da criança e do adolescente.
Isso qualificaria melhor as matérias que abordam o tema, necessidade apontada pelo jornalista e consultor da ANDI, Carlos Ely, que mostrou como a cobertura midiática sobre os direitos da infância e adolescência tem crescido nos últimos anos. “Houve uma evolução, desde o primeiro concurso Tim Lopes porque as redações passaram a incorporar esta pauta, mas de forma geral, os jornalistas ainda buscam apenas uma fonte por notícia e ainda há predominância do sensacionalismo em muitas delas”, disse. O especialista recomenda que os repórteres pesquisem e consultem mais fontes para as entrevistas, além de buscarem referências ao marco regulatório e incluir a avaliação das atuais políticas públicas.
Foram discutidos os cuidados com a apuração e redação jornalística para este tema, que é complexo, e Ely e Graça passaram boas dicas para os jornalistas, que seguirão para o fechamento de suas matérias.
“O problema da exploração sexual era ignorado pelos levantamentos e estatísticas oficiais, mesmo sendo constatado nas ruas”, levantou Mauri Konig, da Gazeta do Povo, de Curitiba (PR) e vencedor pela segunda vez do Prêmio Tim Lopes. O jornalista constatou isso em 2004, ao investigar sua primeira reportagem para o Tim Lopes, quando viajou durante um mês, do Rio Grande do Sul até o Mato Grosso do Sul, para mostrar a dinâmica das redes de exploração sexual infantojuvenil nas fronteiras da Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. O trabalho foi vencedor do Prêmio Wladimir Herzog e terceiro lugar Lorenzo Natali Prize, da União Européia.
No ano seguinte, o jornal decidiu realizar a continuação da matéria, traçando a rota do tráfico da comercialização de meninas desde a cidade de Cáceres no Mato Grosso até o Oiapoque no Amapá, nas fronteiras com a Bolívia, Colômbia, Venezuela e Guianas Francesa e Inglesa – a reportagem ganhou o primeiro lugar no Lorenzo Natali.
As duas matérias estão publicadas no livro do repórter Narrativas de um correspondente de rua. No ano passado, a investigação foi feita também nos portos das regiões Sul e Sudeste. A pauta premiada abordará o turismo sexual em cidades-sede da Copa do Mundo. Segundo Konig, realizar estas matérias investigativas só é possível com muito planejamento antes para não correr riscos. Para ele, foi importante participar mais uma vez da oficina de capacitação para aprender mais sobre a terminologia adequada da área e também obter novas fontes e dicas.
Sobre o Prêmio
O Concurso Tim Lopes seleciona a cada dois anos as melhores propostas de reportagem, oferecendo apoio técnico e financeiro aos vencedores para a execução do trabalho, além de um prêmio em dinheiro para jornalista responsável, após a publicação da matéria. Este ano, foram premiadas seis propostas, além de outros quatro projetos que receberam menção honrosa. Saiba quais foram aqui.
O Prêmio é resultado de uma parceria entre Childhood Brasil e a ANDI e conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji, e da Federação Nacional de Jornalistas – Fenaj.