Uma nova forma de ativismo

Manifestos pela destituição de parlamentares, petição para aprovação da Lei da Ficha Limpa, movimentos anti-corrupção, uma passeata que reuniu 35 mil pessoas em Santa Maria (RS) depois da tragédia na boate Kiss. Esses são apenas alguns exemplos de um fenômeno virtual que tem crescido não só no Brasil, mas em todo o mundo. É o ativismo digital, que transforma as reivindicações de grupos sociais mobilizados por meio da internet em ações práticas.

Debatido intensamente por especialistas e tido como “ativismo de sofá”, esse tipo de mobilização que nasce em redes sociais, blogs e outras ferramentas online, tem sido visto com desconfiança por setores da sociedade habituados a formas tradicionais de protesto. Mas não há como negar que ele vem consolidando cada vez mais a internet como um novo espaço público para debates e formação de opiniões.

Recentemente, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Pierre Lévy, filósofo francês e autor de livros sobre cibercultura, declarou “Não sou contra o ativismo de sofá”, afirmando que esse tipo de manifestação é tão legítimo quanto as formas tradicionais.

Para Gabi Juns, estrategista de comunicação para campanhas da Escola de Ativismo, o papel do ativismo digital está em trazer ao conhecimento um problema ou uma causa com rapidez e eficiência e gerar debate entre as pessoas sobre um assunto em que normalmente não se envolvem.

Por isso, investir nesse espaço também tem sido essencial nas estratégias de comunicação das organizações que enxergam o grande potencial da plataforma digital para dar visibilidade e mobilizar pessoas em torno de suas causas. “Hoje, nos mobilizamos muito pela internet e o poder agregador das redes é importante para exigir mudanças sociais. Uma mensagem transformadora pode começar no mundo online ou off-line. A origem já não importa mais e sim a articulação de diversas ferramentas com o objetivo de construir coletivamente para mudanças”, diz Letícia Born, analista de Programas da Childhood Brasil.

Para alcançar os diversos públicos online, a Childhood Brasil tem investido em ferramentas online. “Acreditamos que elas são essenciais para trazer mais visibilidade e reforçar a proteção de crianças e de adolescentes. Todos estão nas redes sociais: pais, educadores, crianças, adolescentes. E todos têm um papel importante na garantia de direitos”, diz Letícia.

Desafios

Se o ativismo digital traz à tona o conhecimento acerca de um problema ou uma causa, deve-se ressaltar que esse é apenas o primeiro passo. De acordo com Gabi Juns, não se deve esperar dele a solução para o problema. “Não é, não devemos esperar que seja e não devemos prometer isso. Na maioria das vezes, é apenas um passo em um longo caminho que trilhamos para alcançarmos nossos objetivos”, diz.

É no passo seguinte que está o aprofundamento das discussões, quando as pessoas começam a procurar saber mais. “Criamos uma petição, convocamos assinaturas de forma simples e depois não damos retorno a quem assinou, nem enviamos mais notícias, mesmo sabendo que essas pessoas são simpatizantes da nossa causa e estão aptas a se envolverem e juntarem suas vozes às nossas. É como abandonar uma criança em desenvolvimento”, diz Gabi Juns, ressaltando a necessidade de trazer consistência e continuidade nas ações de ativismo digital.

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