Trupe A Torto e a Direito usa teatro para enfrentar a violência sexual no Vale do Jequitinhonha
Vestidos de palhaço ou usando fantoches, eles conseguem falar de um assunto sério. Apresentam-se em escolas, associações, teatros e praças públicas para envolver a população no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. São os atores da Trupe A Torto e a Direito, grupo teatral do Programa Pólos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais, criado há 14 anos. De forma descontraída, com esquetes e caricaturas do mundo real, conseguem abordar tabus, e provocar o público para a transformação de sua realidade.
Além da criação das peças teatrais, a Trupe trabalha com a capacitação de jovens de regiões vulneráveis, desenvolvendo grupos de teatro amador nas comunidades e fomentando a prática do teatro de rua por meio de oficinas e monitoramento de montagens e ensaios. As apresentações envolvem adolescentes com histórico de violência sexual.”É um trabalho difícil, porque escrevemos o texto com os meninos, baseado na realidade deles, e precisamos levar a mensagem de forma metafórica porque será apresentado para crianças”, conta o diretor Fernando Limoeiro. “Ouvimos casos terríveis de embrulhar o estômago, mas transformamos em arte”’.
As peças são produzidas a partir de pesquisas das demandas específicas de cada comunidade, utilizando muitas vezes a linguagem do cordel. “A Trupe transforma os dados científicos em linguagem lúdica, resultando em um texto instrutivo e divertido”, diz Paula Gontijo Martins, Coordenadora Técnica do Núcleo de Trabalho e Geração de Renda do Programa Pólos de Cidadania. “Os jovens passam por uma formação voltada para a cidadania e emancipação e espera-se que, além de atores competentes, tornem-se multiplicadores”, afirma Paula Gontijo Martins.
O teatro leva novas perspectivas para a comunidade e valoriza o jovem ator. “É uma chance deles se melhorarem como pessoa, porque aprendem a ter disciplina, maior expressividade e senso crítico”, diz o diretor Limoeiro. “A gente nota que cresce a autoestima quando eles se sentem parte de um grupo”, complementa.
Um dos importantes projetos desenvolvidos pela Trupe foi a montagem do espetáculo “Nem tudo está perdido”, abordando o tema da exploração sexual infantojuveni, apresentado em várias cidades do Jequitinhonha. A peça foi realizada com meninos da periferia local, envolvendo jovens atores com histórico de exploração. O trabalho foi elaborado a partir de pesquisas e depoimentos, com o objetivo de desenvolver ações de mobilização que estimulassem a discussão, parceria e organização da comunidade local em torno da criação de alternativas para prevenir e enfrentar o problema da exploração sexual.
No último ano, a Trupe participou também do Projeto Fortalecendo as Escolas, para a mobilização de educadores na formação e fortalecimento da rede de proteção à criança e ao adolescente. Para enriquecer seus encontros de capacitação e estimular a reflexão de forma mais descontraída, desenvolveu novas esquetes teatrais sobre temas importantes como a Violência contra a Mulher, Economia Solidária e Violência contra a Criança e o Adolescente. A ideia é utilizar o teatro como estratégia de ação junto a populações com histórico de exclusão social e cultural, e condição de riscos.
Para tornar-se um instrumento de conscientização de forma diferenciada, o grupo tem influência do “Teatro do Oprimido”, criado na década de 70 por Augusto Boal e consolidado internacionalmente como prática e método eficaz de incitar o comportamento solidário e a organização social.
Este ano, a Trupe vai retomar as ações no Vale do Jequitinhonha priorizando a reflexão sobre a exploração sexual na região e apresentar-se regularmente junto aos demais projetos do Programa PÓLOS, dando continuidade a ações de capacitação de jovens atores de 12 a 24 anos.