Tratamento ao abusador pode evitar novas vítimas
Oferecer terapia e tratamento ao agressor sexual de crianças e adolescentes ainda é um tema polêmico até mesmo entre os profissionais de saúde e psicólogos. “Expressar empatia e compreensão com as pessoas que cometeram violência sexual frequentemente é visto como se estivéssemos defendendo o abusador e não a criança”, afirma a psicóloga Rosemary Peres Miyaha. Esse foi um dos temas abordados no Fórum de Enfrentamento à Violência, promovido em novembro pelo Centro de Referência às Vítimas de Violência – CNRVV do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, cujo tema foi “O abusador sexual: algumas propostas de intervenção”.
Em sua palestra “O profissional e o agressor sexual – judiciarização e possibilidades de tratamento”, a especialista em violência doméstica afirma que normalmente o agressor é visto não apenas no Brasil, mas também em outros países, como um “monstro”, mas é preciso lidar com os tabus e compreender a dinâmica que gera o abuso, para prevenir outros casos de agressão. Ela defende também investimentos em programas de tratamento para os abusadores. Rosemary frisa, ainda, que os profissionais da área estão percebendo a importância do assunto, porque, há alguns anos, quando eram promovidos debates a respeito, não havia muitos interessados e hoje o auditório costuma estar cheio.
Dalka Chaves de Almeida Ferrari, do CNRVV, co-autora do livro “O fim do silêncio na violência familiar” e coordenadora do fórum, falou sobre os relacionamentos dentro de uma família disfuncional que geram a violência doméstica. Ela ressaltou a necessidade da intervenção terapêutica e lembrou que muitos abusadores também foram vítimas no passado.
Também participaram do debate, realizado no dia 17 de novembro último, as advogadas Carla Rahal Benedetti (especialista em Crimes Eletrônicos e Crimes Econômicos) e Flávia Piva Almeida (professora de Direito Administrativo, Direito Constitucional e Direito Tributário).
Sobre o CNRVV
Criado em 1994, o Centro de Referência às Vítimas de Violência – CNRVV do Instituto Sedes Sapientiae trabalha no combate à violência doméstica, com programas de tratamento, prevenção, formação de profissionais e pesquisa. Foi vencedor do Prêmio Criança 2002 da Fundação Abrinq, na categoria Violência Doméstica. O tratamento é realizado tanto com a vítima quanto com o agressor, que geralmente estão dentro do mesmo grupo familiar, utilizando técnicas psicodramáticas, psicanalíticas ou sistêmicas.
O CNRVV é conveniado com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social para execução do Programa Sentinela, que atende crianças e adolescentes abusados ou explorados sexualmente.