“Tenho medo que meu padrasto abuse também da minha filha”

Maria Silvério (nome fictício para preservar a identidade), de 32 nos, guardou durante muitos anos em segredo, que havia sido molestada sexualmente pelo padrasto dos oito aos 13 anos. Só teve coragem de desabafar com a mãe quando estava grávida. Como vigilante noturna, ela cuida da segurança das pessoas, mas tem medo de não conseguir proteger a própria filha.

Até hoje, em sua família, todos fazem de conta que nada aconteceu. Ela conta que antes de ser molestada pelo padrasto, foi abusada também pelo tio e que o mesmo ocorreu com a sua irmã de criação e sua prima. A cena, inclusive, foi presenciada por ela e pelo irmão. Ela tem dificuldade para recordar a idade exata, devido ao trauma, mas afirma que todos não tinham ainda completado oito anos.

O padrasto continua vivendo com a mãe de Maria, na casa onde hoje também mora sua filha de 13 anos. “Ele quase não fica lá, mas meu maior medo é que ele abuse também de minha filha”, afirma Maria Silvério. “Eu não sei do que seria capaz se soubesse que aconteceu alguma coisa com ela”.

Ela conta em seu depoimento que na época do abuso não tinha muita informação a respeito e não sabia a quem recorrer. “Hoje sei que isso é crime, mas não passava pela minha cabeça que poderia denunciá-lo”, diz. “Eu era muito pequena e não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sabia que não era coisa boa, eu sentia nojo, porque o cheiro dele ficava em mim”, relata.

Maria também diz que não conseguiu contar antes para a mãe, porque tinha medo de ela não acreditar, mas incentiva que as vítimas contem e denunciem. “Briguem com o mundo, mas não permitam que estes monstros destruam seus sonhos”.

Como Maria nunca teve acesso a terapias ou medicamentos, as sequelas do trauma permanecem até hoje, embora tente levar uma vida normal ao lado do marido. “Dói muito quando lembro e fico muito nervosa, tenho muita alteração de humor e, muitas vezes, vontade de desaparecer”, afirma. “Eu não tenho amizades, porque não suporto que as pessoas me toquem, acho sempre que vou ser enganada”.

Ela afirma que já alertou a filha sobre o problema e acredita que os pais podem evitar esta situação participando mais da vida dos filhos e sendo amigos deles. “Eles precisam saber que podem contar conosco para desabafar qualquer coisa”’.

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