Psicoterapia de grupo: a importância de um ambiente acolhedor para vítimas de abuso sexual

Por anos a fio ela tinha guardado aquele segredo. Um dia, durante a terapia em grupo no hospital, resolveu finalmente acabar com aquele silêncio. Tinha então 70 anos, mas não podia mais se calar. Quando adolescente havia sido abusada sexualmente pelo irmão e, com medo do noivo descobrir na lua de mel, resolveu contar porque não era mais virgem. Ela esperava no mínimo um abraço apertado do rapaz, mas em troca recebeu apenas o desprezo e o fim do noivado. Passou a vida sozinha, com medo de que outros desmanchassem com ela também.

“Ela se sentiu tão acolhida na sessão que contou toda sua história, embora estivesse num grupo para discutir o câncer”, conta Alcina de Cássia Meireles, diretora técnica do serviço de saúde do Núcleo de Psicologia do Hospital Pérola Byington. “Na outra semana ela me disse o quanto estava aliviada e feliz, por ter compartilhado sua experiência”.

A psicoterapia é fundamental para o tratamento de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual para que não carreguem este peso e os danos muitas vezes irreversíveis por toda vida. Hoje, mais da metade dos casos atendidos no Hospital Pérola Byington, em São Paulo, são de crianças com até 12 anos.

A maioria é de meninas, mas também há meninos atendidos. “Acredito que seja mais difícil para comunicar estes casos, porque eles acabam sendo rotulados de gay na escola, o próprio pai tem uma conduta inadequada, muitos não querem sair de casa e também não querem ir para um hospital feminino”, afirma Alcina.

Para cada tipo de abuso sofrido, existem várias modalidades de atendimento. “O apoio emocional especializado é imprescindível, porque chegam aqui casos muito complicados, acompanhados de tortura, digo que são sobreviventes da violência, tamanha a brutalidade sofrida”, afirma o Dr. Jéferson Drezett, diretor técnico do serviço de saúde do Núcleo de Programas Especiais do Serviço de Atenção Integral à Mulher em Situação de Violência Sexual do Centro de Referência da Saúde da Mulher do Hospital Pérola Byington.

A terapia de grupo é uma das técnicas adotadas e procura proporcionar um ambiente seguro no qual possam ser discutidos, por meio de jogos dramáticos e outras técnicas de sensibilização, questões diretamente relacionadas à situação de violência e outros temas.  Os grupos costumam reunir-se semanalmente e são divididos por faixas etárias.

“O tratamento de grupo tem um resultado fantástico, porque as crianças acabam se apoiando, contam como foi passar pela delegacia, eles mesmos se confortam na conversa”, diz Alcina de Cássia Meireles. Segundo a especialista, ainda existe o mito e a confusão de que terapia é somente um bate-papo. “Não é somente chorar e desabafar, a gente faz um trabalho científico além do ouvir, porque senão vira só uma conversa”.

Dos 13 psicólogos da equipe do Hospital Pérola Byington, seis são especializados em violência sexual. A prioridade no tratamento são as vítimas de abuso, mas também é oferecido apoio psicológico para alguns familiares que estejam sofrendo com a situação. O atendimento dura quanto tempo for necessário para a recuperação do paciente. Há casos de jovens que já fazem terapia há cinco anos no local.

Serviço: Hospital Pérola Byington
Rua Brigadeiro Luis Antônio, 683 – Bela Vista
Fones: (11) 3248-8000 / 3248-8035

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