Promovendo a Paternidade Responsável
Conversamos com o Instituto Papai para entender como os conceitos de igualdade de gênero e papéis da feminilidade e masculinidade ajudam a promover paternidade responsável
Vivemos em uma sociedade na qual as mães ainda são vistas como as principais responsáveis por educar e cuidar de seus filhos, enquanto os pais adquirem um papel secundário na criação de crianças e adolescentes. Para mudar este cenário, é preciso investir em educação e políticas públicas que promovam um papel igualitário para pais e mães. Por isso, neste Dia dos Pais, conversamos com Mariana Azevedo, coordenadora do Instituto Papai, sobre Paternidade Responsável e a importância de se discutir assuntos como desigualdade de gênero e a construção de papéis sociais de masculinidade e feminilidade para incentivar uma relação mais saudável e participativa de pais com seus filhos.
Como surgiu a ideia de criar o Instituto Papai?
O Instituto papai surgiu em 1997 a partir de uma proposta de intervenção junto aos serviços de saúde, resultado de uma pesquisa de pós-graduação com o objetivo de compreender de que forma os serviços de saúde sexual e reprodutiva estavam acolhendo os pais adolescentes. Diante da realidade de invisibilidade desses pais nas políticas de saúde, surgiu o Programa de Apoio ao Pai – nossa primeira ação – para oferecer acolhimento e oficinas educativas para pais adolescentes dentro dos serviços de saúde. Ao longo dos anos, a missão do Instituto Papai foi se ampliando e hoje, atuamos junto a homens visando a promoção da equidade de gênero a partir de uma perspectiva feminista. Dessa maneira, além do tema ‘Paternidade’, também trabalhamos ações de prevenção à violência contra a mulher, saúde e diversidade sexual.
Como vocês veem a realidade brasileira quanto à relação Maternidade X Paternidade?
Acreditamos que há avanços na relação Maternidade X Paternidade, mas ainda estamos longe de alcançar o tratamento igualitário no cuidado das crianças. Ainda precisamos de amplas mudanças nos níveis individual, institucional e cultural para que homens e mulheres se dediquem de maneira equitativa à vida reprodutiva. Temos tido, por exemplo, alguns avanços em relação à licença paternidade: em alguns estados e municípios, ela chega a ser de um mês. Mas se compararmos com o tempo da licença maternidade, que pode chegar a 6 meses, a diferença ainda coloca as mulheres como as principais ou únicas responsáveis pelo cuidado das crianças. Além disso, é preciso dar maior atenção à diversidade de configurações familiares que temos no Brasil.
De que forma a desigualdade de gênero impacta na diferença significativa entre os papéis sociais de pais e mães?
Acreditamos que essa é a raiz dessa questão, pois a partir do momento em que se estabelece papéis rígidos sobre o que é ser mulher e ser homem (consequentemente, sobre o que é ser pai e mãe), fecham-se as portas para questionar as desigualdades de gênero. Ainda há muita romantização sobre a maternidade e uma ideia de que existe um instinto maternal, que naturaliza a realidade de muitas mulheres, por exemplo, de estarem sobrecarregadas com o cuidado de seus filhos.
Sabemos que, no Brasil, há muitas mães solo e crianças sem o nome do pai em sua certidão de nascimento. Quais são os impactos dessa realidade no desenvolvimento de crianças e adolescentes?
Não é possível estabelecer uma relação direta entre a ausência paterna e impactos negativos no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Porém, os benefícios são claros quando temos duas pessoas atentas às suas necessidades e provendo uma variedade de estímulos ao desenvolvimento das crianças.
Pode nos contar um pouco sobre as ações educativas que o instituto promove com crianças e jovens?
Desenvolvemos grupos educativos com meninos adolescentes de idade entre 14 e 17 anos, organizando encontros geralmente duas vezes por semana, ao longo de um ano. Algumas vezes, também temos a possibilidade de oferecer uma formação em Arte-Educação – que se encerra com a apresentação de uma peça teatral em escolas e outros espaços da cidade. Nesta formação, nós abordamos temas como: saúde e direitos sexuais e reprodutivos; enfrentamento ao racismo; gênero e masculinidades; enfrentamento à violência contra à mulher e direitos humanos.
Por fim, você teria dicas de como pais de crianças e adolescentes podem ensinar a seus filhos conceitos de igualdade de gênero, masculinidade não tóxica e paternidade responsável?
Acredito que o melhor ensinamento vem do exemplo. Crianças que observam seus pais participando das tarefas domésticas, se posicionando publicamente contra todas as formas de violência e cuidando se si e dos outros a sua volta vão entender, desde muito cedo, que tudo isso “também é coisa de homem”, apesar da expressão equivocada. Abrir canais de conversa e diálogo para desnaturalizar, desde cedo, que existem “coisas de menino” e “coisas de menina” também são muito importantes.
Alguém aí já pensou em dar uma boneca de presente para um menino de 5 anos?