Projeto de lei prevê maior prazo para propor ação contra agressores sexuais
Ela tem um projeto de lei com o seu nome, aprovado no Senado Federal e aguardando análise na Câmara dos Deputados, que prevê maior prazo para propor ação contra o perpetrador do abuso sexual. O projeto Joanna Maranhão, no momento na Comissão de Constituição e Justiça aguardando para ser pautado, foi criado a partir do depoimento da nadadora pernambucana para a imprensa de que tinha sido abusada sexualmente pelo ex-treinador, aos nove anos. Ela conta que, na época, havia aqueles que acreditam que ela só tinha denunciado um ex-treinador para se promover e até hoje recebe ameaças. Mas, a maioria das pessoas admira o seu exemplo de superação e a incentiva com cartas de apoio e carinho, principalmente mulheres que passaram pelo mesmo trauma.
O que a motivou a denunciar, sabendo que a maioria das pessoas sofre ameaças e retaliações?
Eu nunca sei por que foi naquele momento que me senti pronta para falar e não meses antes ou depois. As pessoas mais próximas já sabiam e outras desconfiavam, porque, nos últimos anos, eu estava depressiva durante os treinos e fazia terapia. Pensei até em parar de nadar. Era difícil continuar trabalhando no meio onde tinha acontecido.
Com o tratamento psicológico, fui “vomitando” tudo aquilo e achei interessante trazer ao público, as pessoas entenderiam o que passei e iriam respeitar minhas atitudes. Não imaginava, no entanto, que aquilo fosse tomar uma conotação tão grande, me assustei com a repercussão, mas hoje estou mais do que pronta pra continuar tocando no assunto e lutando contra esse mal.
Você fez a denúncia para a imprensa antes de ir na Justiça denunciá-lo? Chegou a ir na Justiça para processá-lo?
Eu nunca pensei em ir à Justiça, eu só dei uma entrevista por internet, quando estava na França e, de repente, aquilo tudo aconteceu. Sempre pensei que não iam descobrir o nome dele, nem a época, mas começaram a desconfiar de todos os meus técnicos. Então tive que abrir o jogo, não queria que professores brilhantes que tive carreguem esse fardo, aí eu revelei a identidade dele. Como era esperado, ele não assumiu, negou tudo. Paciência, inesperado seria se ele tivesse a humildade de assumir, né?
Como foi saber que ele estava te processando, sendo que você é a vítima? O caso já foi encerrado?
Não sei em que pé anda o processo, minha mãe resolve tudo pra mim porque hoje meu foco é a natação e a minha faculdade. Se eu perder o processo na justiça, eu não ligo, a justiça dos homens é falha, mas a de Deus não, e eu ainda tenho outras formas de lutar contra isso, ajudando outras pessoas, isso me basta.
O que você acha do Projeto de Lei com o seu nome?
É um Projeto brilhante, sendo tocado pelo pessoal do gabinete do senador Magno Malta, porque prevê maior prazo para propor ação contra o agressor. A criança que sofre abuso espera chegar à fase adulta para entender o que está acontecendo.
Desde então você tem recebido muitos e-mails e cartas de pessoas relatando casos parecidos ou pedindo ajuda?
Sempre e faço questão de responder a todos. São pessoas que se vêem na minha história. Olha, tem cada caso que recebo de cortar o coração. Vendo outros relatos, percebo como tive sorte, porque tem gente de mais de 30 anos que me escreve sofrendo como se tivesse acabado de acontecer o abuso. Você imagina o que é carregar isso por mais de 20 anos? Deve ser insuportável.
Você chegou a receber algum tipo de comentário na época de que estaria fazendo isso só para aparecer na mídia?
Vários, inclusive de pessoas próximas a mim. Nessas horas eu queria ter o poder de pegar minhas lembranças e implantar na cabeça dessas pessoas, só pra elas assistirem tudo que tenho gravado aqui, pelo menos uma vez. Isso bastaria pra acabar com os comentários.
Você acredita que tem incentivado outras pessoas a não ficarem caladas?
Sim, tenho certeza que sim e isso que me motiva a continuar lutando.
Você recebeu muitas ameaças na época por ter tido coragem de denunciar?
Assim como recebi mensagens de apoio, recebi de criticas. Tem gente que acredita nele, né? É um direito das pessoas próximas a ele.
Acha que precisa haver alguma mudança na lei para proteger as vítimas?
Acho que as coisas estão caminhando, antigamente nem se falava nisso. Hoje as pessoas já sabem o que é. É um passo enorme, a cada dia uma pequena vitória.