Programa Na Mão Certa: conquistas e desafios no combate à exploração sexual infantojuvenil nas estradas

Há cinco anos, a Childhood Brasil desenvolve o Programa Na Mão Certa, que objetiva reunir esforços e mobilizar governos, empresas e organizações da sociedade civil para um enfrentamento mais efetivo à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.

Os caminhoneiros têm um papel fundamental para o sucesso do Programa, podendo ser mobilizados e educados como agentes de proteção à infância e juventude contra esta grave violação de direitos humanos.

Como combater os valores machistas ainda muito presentes entre estes profissionais e qual a melhor maneira de sensibilizar o caminhoneiro que ainda acredita ser “normal” ter relações sexual com adolescentes de 15 a 18 anos, ao passo que elas não perderam a virgindade com eles e já são “experientes”?

Acreditamos que a informação e a educação são as ferramentas que viabilizam a mudança cultural dos motoristas. Não é um processo simples ou rápido, porém, acreditamos que é este o melhor meio para fazê-los entender que a exploração sexual acarreta graves conseqüências às adolescentes, como a contaminação por DSTs, gravidez precoce e envolvimento com outros tipos de crime, e, a partir daí, sensibilizá-los e mobilizá-los como agentes de proteção nas estradas.

Qual o perfil do caminhoneiro brasileiro e como ter esta informação ajuda no trabalho de elaborar estratégias?

Segundo a pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a pedido da Childhood Brasil, o caminhoneiro tem, em média, 38 anos, e 15 anos de profissão. A maioria é casada (69%), tem filhos (74%) e recebe remuneração entre R$ 1.000 e R$ 2.000. Apenas quatro entre dez possuem veículo próprio. E oito entre dez cumprem rotas que cruzam estados, o que os leva a passar 20 dias de um mês na boléia de um caminhão. A má qualidade das estradas e a violência são os seus maiores riscos. Na pesquisa, 37% deles admitiram ter feito programas com crianças e adolescentes a um custo médio de R$ 18. São dados muito importantes para desenvolvermos ações e estamos finalizando uma nova pesquisa, para avaliar se houve mudanças neste quadro desde o início do programa.

Como as empresas que trabalham com caminhoneiros devem lidar com a questão da exploração sexual infantojuvenil, já que não têm controle sobre a vida privada destes profissionais?

Hoje contamos com 796 empresas signatárias do Pacto Empresarial do Programa Na Mão Certa, na maioria transportadoras, mas também há signatárias do setor industrial e do varejo. As empresas realmente não têm controle sobre a vida pessoal de seus funcionários, mas mostramos a elas que é possível, sim, trabalhar a conscientização por meio da educação. Hoje, percebemos empresas mais conscientizadas sobre a importância desta causa e engajadas na realização de ações diretas junto a seus motoristas, sejam eles funcionários próprios ou de transportadoras terceirizadas.
Desenvolvemos o Projeto de Educação Continuada de caminhoneiros, que conta com uma coleção educativa e ilustrada com oito Guias Na Mão Certa (Dirigindo por um novo Brasil, Direitos da Criança e do Adolescente; Saúde; Família; Segurança; Drogas e Álcool; Meio Ambiente; Direitos Humanos nas estradas) que levam informações e orientações sobre a questão da exploração sexual infantojuvenil e outros temas de relevância aos motoristas.

De que forma as empresas se engajam com a causa?

Ao assinar o Pacto Empresarial do Programa Na Mão Certa, as empresas assumem o compromisso de: melhorar as condições de trabalho do caminhoneiro, inserindo o tema nos treinamentos; participar de campanhas; estabelecer relações comerciais com fornecedores da cadeia de serviços de transporte que estejam compromissados com os princípios do pacto; informar e incentivar seus funcionários e colaboradores a participar de ações para erradicação do problema; apoiar, com recursos próprios e/ou do Fundo da Infância e da Adolescência, em parceria com governos e/ou organizações sem fins lucrativos, projetos de reintegração social de crianças e adolescentes vítimas da exploração sexual; monitorar os resultados de suas ações para a sociedade.

Em sua opinião, quais são hoje os principais desafios ainda presentes no combate à exploração sexual infantojuvenil?

Ainda são vários. Precisamos de maior divulgação do problema, porque ainda é muito grande a falta de conscientização dos adultos. Também é importante termos um sistema fortalecido de garantia dos direitos das crianças e adolescentes, para estarmos preparados para trabalhar na prevenção.

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