Professor da PUC aponta descaso com a evasão escolar de adolescentes travestis

As instituições de ensino devem comunicar a evasão de estudantes, mas a notificação não costuma acontecer em casos de adolescentes travestis. Segundo o professor Alan Loiola, autor da pesquisa “Garotos sem programa: estudo sobre exploração sexual comercial de adolescentes do sexo masculino na cidade do Rio de Janeiro”, estes adolescentes costumam ser rejeitados em sala de aula e pela família e, como consequência, estão mais suscetíveis à rede de exploração sexual. Mestre em Serviço Social pela PUC-Rio e especialista em atendimento a vítimas de violência doméstica, Alan afirma que a sociedade ainda insiste em tratá-los como invisíveis.

Os adolescentes travestis são vistos como “problema” para as escolas?

Sim. Toda criança e adolescente tem o direito e o dever de estar na escola garantidos por lei, mas as instituições de ensino que têm a obrigação de notificar a evasão ao conselho tutelar nem sempre o fazem no caso de travestis. A escola não acolhe. E como costumam sofrer bullying não chegam nem a completar o ensino fundamental.

O mercado da exploração sexual aproveita-se da evasão escolar?

Os agenciadores das redes de tráfico sexual oferecem modificações corporais, como as injeções de silicones e implante de megahair. Os garotos enxergam como uma possibilidade de ganhar dinheiro e poder vivenciar a orientação sexual homossexual ou travesti, por estarem desprotegidos da comunidade, mas acabam num perverso esquema de drogas e dominação dos adultos.

Como é a relação das travestis com a família?

É um relacionamento muito fragilizado, mesmo entre aqueles que dizem ter vínculo, porque nos poucos casos nos quais ele ainda existe, está mais associado com o que oferecem financeiramente para a família (presentes e mesada) do que afetivamente, porque não moram com elas, vivem em lugares alugados pelo dono do ponto de exploração sexual.

O que o motivou a estudar este assunto?

Quando eu ainda era aluno e comecei a estagiar na Fundação da Infância e Adolescência, no Rio de Janeiro, percebi a grande dificuldade dos profissionais para auxiliar meninos explorados sexualmente, porque eles não sabiam para onde encaminhar travestis. Com a equipe do Serviço de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual da Prefeitura carioca, visitei os principais pontos de exploração para conhecer mais sobre esta realidade.

Como os adolescentes travestis geralmente são recebidos pelos profissionais?

Ainda temos muito para avançar. Existem técnicos que não sabem diferenciar abuso de exploração sexual. Ainda se confunde a exploração sexual de crianças e adolescentes com a prostituição de adultos, mas as crianças e adolescentes não escolhem esse trabalho; elas precisam ser protegidas pelos adultos. Muitos profissionais ainda acreditam que não precisam fazer nada nestes casos, porque foi escolha do adolescente ser travesti e explorado sexualmente, o que representa uma concepção totalmente errada.

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