Por que precisamos falar sobre o conteúdo do filme “Como se tornar o pior aluno da escola?”
Por que precisamos falar sobre o conteúdo do filme “Como se tornar o pior aluno da escola?”
O abuso sexual contra crianças e adolescentes é um problema sério e de grande complexidade. Infelizmente, os números dessa realidade são alarmantes e não devem sofrer com a banalização, sobretudo pelo fato de que 70% das vítimas de violência sexual no Brasil são crianças e adolescentes. Nos últimos dias, o filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, longa-metragem do gênero de humor lançado em 2017 e classificação indicativa para público a partir de 14 anos, ganhou repercussão na mídia por conta de uma cena em que um personagem, interpretado pelo ator Fabio Porchat, abusa sexualmente de dois alunos do 9º ano do Ensino Fundamental.
A Childhood Brasil entende que o assunto deve ser conversado e debatido de forma plena na sociedade e nas produções audiovisuais, mas, ressalta que esse tipo de conteúdo não deve ser disseminado sem responsabilidade, no formato e roteiro mostrados no filme. A cena em questão naturaliza o abuso sexual, não responsabiliza o adulto pelo crime cometido e não traz nenhum tipo de informação relevante sobre autoproteção ou as formas de denúncia de casos de abuso sexual.
É importante também ressaltar que a classificação indicativa de faixa etária desta produção, não está adequada e viola alguns critérios do manual de classificação. Defendemos o uso consistente dessa ferramenta, pois é uma conquista dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Nem todo mundo sabe, mas o abuso sexual não se limita apenas ao contato físico, pode acontecer de outras formas como telefonemas eróticos, voyerismo, exposição de materiais pornográficos para crianças e adolescentes etc. Além disso, o filme viola os direitos dos próprios atores da trama, que ao representarem a situação, estão expostos às cenas de abuso sexual. Isso vale para qualquer obra de arte ou de entretenimento. De acordo com o Art. 241, do Estatuto da Criança e Adolescente, é cabível pena de reclusão e multa por “oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.”
A Childhood Brasil reitera que a informação é o melhor caminho e a educação sexual é necessária para a criação do senso de autoproteção de meninos e meninas brasileiros. É imprescindível que nossas crianças conheçam como prevenir e identificar situações de abuso sexual para saber como agir nessas situações e como solicitar ajuda.
É fundamental também que toda a sociedade esteja engajada e, ao sinal de qualquer suspeita ou confirmação de situação de abuso, denuncie aos serviços especializados como o Disque 100, o 180, a Polícia Militar (190), o aplicativo SABE (disponível nas lojas de aplicativos do seu smartphone), o Disque Direitos Humanos, ou o Conselho Tutelar da sua cidade. Seja um agente dessa causa, ajude a construir ambientes mais seguros, apoie programas e projetos de proteção de meninos e meninas e ajude a tornar o mundo um lugar livre do abuso e da exploração sexual, bem como todas as formas de violência contra crianças e adolescentes.