‘Pipo e Fifi’ e a violência sexual infantil
A autora de Pipo e Fifi conversa com a Childhood Brasil sobre o papel do livro na prevenção da violência sexual infantil
Os livros podem ser uma ferramenta de proteção poderosa para proteger crianças e adolescentes de situações de abuso sexual. No Dia Internacional do Livro Infantil, conversamos com Carol Arcari, autora do livro Pipo e Fifi, que ajuda na prevenção da violência sexual infantil. Confira a entrevista:
Como especialista no tema, quais são os principais benefícios da Educação Sexual na vida de crianças e adolescentes?
A educação sexual é uma das formas mais eficazes de enfrentamento da violência sexual infantil. Não se refere apenas ao conhecimento dos genitais e saber de onde vêm os bebês, mas aos conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos, identidade e tipos de toques que adultos estão autorizados ou não em relação ao corpo da criança e do adolescente. Quando ensinada com o material adequado a cada faixa etária, a educação sexual é uma ferramenta muito eficaz de proteção.
A sexualidade nada mais é do que a busca pelo bem-estar – seja na relação com a gente mesmo ou com o outro. Essa busca se dá desde o nascimento: pelo toque dos pais, pelo modo como a mãe amamenta, o embalar de um colo, como percebe seu corpo, como começa a descobrir o mundo, as cores, os sons. A educação sexual nessa fase se dá nessa interação da criança com seu meio e com outras pessoas. A partir daí, em cada faixa etária, a criança apresentará necessidades e curiosidades diferentes. Nesse momento, a função da família e da escola é responder suas perguntas com honestidade.
A eficácia desse trabalho educativo na prevenção da violência sexual infantil já foi comprovada? Quais foram as descobertas?
Precisamos superar o mito de que a educação sexual pode incentivar a iniciação sexual precoce de crianças e adolescentes. Pelo contrário! Ao analisar mais de mil relatórios sobre os efeitos da educação sexual no comportamento de jovens, a Organização Mundial da Saúde (OMS) comprovou que, quanto mais informação sobre a sexualidade, mais tarde os adolescentes iniciam a vida sexual. Estudos mostram que crianças que têm Educação Sexual se mostram até 6 vezes menos vulneráveis a situações de violência sexual infantil. O diálogo de qualidade, com profissionais bem preparados e materiais didáticos adequados é o caminho para a proteção da infância e da adolescência.
A necessidade de se ter uma educação sexual nas escolas, além do aprendizado dentro do ambiente familiar, é resultado de dados preocupantes: em torno de 75% das denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes envolvem ambiente intrafamiliar, ou seja, são casos cujos autores da violência são padrastos, pais, parentes ou pessoas que as crianças confiam e tem algum vínculo afetivo. Se a Educação Sexual ficasse reservada à esfera familiar, como essas crianças teriam acesso à informação que poderá protege-las dos abusos?
Como foi o processo de desenvolvimento de Pipo e Fifi?
A ideia de escrever Pipo e Fifi foi ousada, porque falar sobre violência sexual com crianças já é um grande desafio. Os monstrinhos vieram para criar um vínculo com o imaginário da criança. A partir dessa ideia, tudo começou a tomar forma. Quando escrevi que “Fifi era uma monstrinha que usava uma imensa calcinha”, li em voz alta e falei pro meu marido: “Ih, tô lascada, agora quero a obra toda rimada.”
O conteúdo do livro foi elaborado com muito cuidado e estudo, passando por revisões técnicas de profissionais do Instituto CORES: psicólogos, pediatras e pedagogos. Transformar todo esse conteúdo em rimas foi uma construção de alguns meses até surgirem os termos simples, diretos e adequados para a compreensão de crianças. Assim, as 32 páginas do livro são resultado de um trabalho teórico e minha prática em projetos de enfrentamento da violência sexual infantil.
Qual seria a sua orientação para pais, responsáveis e educadores abordarem Pipo e Fifi e o tema da prevenção da violência sexual infantil com as crianças?
O mais importante é saber que falar sobre o corpo e sobre a violência sexual é a forma mais eficaz de prevenção. O adulto que se interessar em ler a obra ou fazer uma leitura em espaços educativos, pode começar explorando a plataforma Pipo e Fifi: prevenção de abuso sexual infantil (o acesso é gratuito), para entender o que é o fenômeno da violência sexual, saber reconhecer comportamentos indicativos na criança e saber como agir em caso de suspeitas de violência sexual. O próprio livro fornece um passo a passo de como realizar a leitura e lidar com as possíveis perguntas que surgirão durante esse processo.
Entenda, no quadro abaixo, os principais tópicos a serem abordados com crianças e adolescentes sobre sexualidade: