Oficina Criando Arte: confecção de bonecas de pano para superação de traumas

Oficina Criando Arte

Parece até brincadeira de criança, mas é trabalho sério de terapia e capacitação de adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual. Confeccionando e brincando de bonecas, meninas conseguem colocar para fora os seus medos, traumas e superar suas histórias de envolvimento com drogas e violência.

Essa é a proposta da Oficina Criando Arte, desenvolvida desde o ano 2000 pela Associação Lua Nova, em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo, onde adolescentes grávidas ou jovens mães em risco social aprendem não só a costurar bonecas, como recebem atendimento terapêutico e aulas de empreendedorismo, para a inserção no mercado de trabalho e na comunidade. O nome da instituição surgiu do desejo de mostrar o potencial e talentos destas meninas e de seus filhos que costumam não ser reconhecidos pela sociedade.

As meninas grávidas ou com filhos pequenos chegam à Lua Nova geralmente encaminhadas pelo Conselho Tutelar de suas cidades de origem, Varas de Infância e Juventude, igrejas e outras instituições. São adolescentes com experiência de abandono familiar precoce, exploração e abuso sexual, marginalização e dificuldade de inserção social. Depois de passarem por um período de adaptação, de cerca de nove meses no abrigo da instituição, são encaminhadas para os projetos de geração de renda.

A Lua Nova auxilia na recuperação de dependentes de drogas e de meninas grávidas sem planejamento, a partir do fortalecimento da autoestima, do convívio social e reforçando o vínculo com seus filhos e a comunidade. A abordagem psicológica é sempre focada no desenvolvimento dos talentos pessoais “Trabalhamos valorizando as habilidades e o potencial que elas demonstram nas atividades práticas”, diz a psicóloga Raquel Barros, a fundadora do projeto.

Em meio a um bate-papo com as psicólogas, elas contam sua vida ou casos de outras meninas, usando personagens coloridos de pano e cabelo de lã, confeccionados por elas mesmas. As bonecas retratam pessoas da família, ou profissionais como juízes, médicos, professores e até monstros para mostrar os pesadelos. Por meio dos bonecos e usando linguagem teatral elas representam seus próprios papéis e têm condições para recriar a realidade.

Os materiais produzidos pelas meninas dão origem a kits educativos que são trabalhados por escolas e outras instituições. “Percebi que a boneca é um ótimo instrumento para trabalhar temas complexos relacionados com sexualidade de forma lúdica”, afirma Raquel Barros.

No início, o trabalho contou com a ajuda de uma artista plástica para orientar as meninas a desenvolver o trabalho. Hoje, elas mesmas fazem suas próprias bonecas com muita criatividade. As mais antigas passam suas experiências e ensinam as meninas que chegam a desenhar, encher e costurar. Alguns produtos são criados em conjunto por mãe e filho.

Outro projeto da ONG é o Brindes da Lua , que reaproveita resíduos de materiais doados por indústrias têxteis para a fabricação de chaveiros, camisetas e materiais artísticos. As bonecas, sacolas, brindes e outros trabalhos artesanais produzidos na Lua Nova geram trabalho e renda para as próprias jovens, porque são vendidas por encomenda para empresas de todo o Brasil, como a rede hoteleira Atlantica Holels.

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