O que a Childhood Brasil pensa sobre o caso da doutoranda presa por “pedofilia”
A notícia “Professora universitária presa por pedofilia”, publicada no jornal O Estado de S. Paulo ontem (28 de agosto de 2012), causou grande repercussão entre veículos de imprensa, organizações que promovem os direitos da infância e na sociedade.
O fato da perpetradora em questão ser professora universitária reforça que a violência sexual não é um fenômeno restrito a uma classe social ou a baixos índices educacionais. Foi justamente isso que chamou a atenção da mídia: a agressora ser doutoranda da USP. Porém, enfatizar a formação do agressor não ajuda a enfrentar o problema.
É importantíssimo ressaltar que a questão da “pedofilia” deve ser analisada e julgada com cuidado – neste caso e em muitos outros, a mídia tem explorado esse termo de forma equivocada. A “pedofilia” é um distúrbio de comportamento, classificado como uma parafilia e caracterizada pela recorrência de comportamentos, anseios e fantasias sexuais intensas por crianças e adolescentes. A “pedofilia” em si não pode ser tida como crime, uma vez que é um transtorno da personalidade. O crime é o do abuso sexual quando este é praticado. Nem todo pedófilo é criminoso e nem todo criminoso é pedófilo.
Neste caso, a adolescente conheceu alguém pela internet, marcou um encontro e foi vítima de exploração sexual uma vez que teve uma relação sexual com adultos mediada por presentes. O ato foi registrado, os agressores armazenaram as imagens de pornografia infanto-juvenil em seus computadores e disponibilizaram em site específico.
O abuso sexual aconteceu, mas, como houve uma situação de troca, o caso também é caracterizado por exploração sexual.
O caso ainda esta sendo investigado, mas ele é um exemplo importante dos riscos que crianças e adolescentes correm ao interagirem com pessoas desconhecidas em sites impróprios para suas faixas etárias. O pai da adolescente foi suficientemente sensível para perceber as mudanças no comportamento da sua filha e tomar uma atitude. No entanto, tanto o abuso quanto a exploração sexual haviam acontecido.
Este caso, infelizmente, não é inédito. Ele se soma a tantos outros que fez com a Childhood Brasil desenvolvesse, desde 2006, uma ação especifica para promoção do uso ético e seguro da internet cujo grande destaque é a divulgação da cartilha Navegar com Segurança, que orienta pais e educadores a promover o uso seguro da internet entre crianças e adolescentes. Situações como esta reforçam a importância de trabalharmos a prevenção em todas as dimensões; família, comunidade, escolas, crianças e adolescentes.
Como a Childhood Brasil se posiciona em relação aos riscos na internet:
“Dentro da nossa concepção, é importante enfatizar que as crianças não são introduzidas ao uso da tecnologia, elas nascem em um mundo em que a tecnologia é um mediador de relações. Portanto, paras as novas gerações não existe condição online ou offline ou entre o real e o virtual.
O modo como crianças e adolescentes se relacionam nas redes sociais costuma ser um reflexo de como se relacionam na escola ou em outros ambientes. Trata-se de mais um espaço de circulação e interação. Socializar-se é importante e saudável para toda criança e para todo adolescente.
A internet é um espaço público: bilhões de pessoas e informações circulam por ele. Por isso, as crianças e os adolescentes estão mais expostos neste ambiente. Trata-se de um primeiro fator de risco. Foi o caso desta adolescente que se encontrou com um adulto em um site sadomasoquista e estabeleceu uma relação de troca de informações, de imagens chegando inclusive a um encontro presencial.
O segundo fator de risco é que não sabemos quem está falando do outro lado do computador. É o “não fale com estranhos” do mundo contemporâneo.
Há um terceiro fator de risco: a falta de acompanhamento dos pais – no sentido de abertura para o diálogo, de conhecerem o universo dos filhos. Muitos pais acreditam que seus filhos estão seguros porque estão brincando dentro de casa. Ou que podem ficar o tempo todo no computador sem o monitoramento dos pais porque há antivírus ou ferramentas de controle de conteúdo.”