O estupro e a invisibilidade da violência

Lemos todos, estarrecidos, sobre o estupro coletivo sofrido por uma adolescente no Rio de Janeiro nesta semana.

Infelizmente, grande parte dos casos de violência não é denunciado e sequer chega ao sistema. E ela continua sorrateira, por debaixo do tapete, sem que seja vista pela sociedade.

Porque a violência sexual, para muitos, é culpa da vítima, e depende da roupa que ela usa, do comportamento que “estimula” o agressor, do lugar onde ela estava. Para outros, é algo um tanto quanto normal, algo que passa despercebido, porque a mulher, independente da situação, deve estar sempre sexualmente disponível para o companheiro. Porque a adolescente, se estava na beira da estrada em situação de prostituição é, seguramente, porque escolheu estar ali. Porque sair à noite para se divertir subverte a “ordem” das coisas, e meninas e mulheres “direitas” não deveriam estar em bailes funks, baladas, bares. Não sozinhas. Não desacompanhadas de um homem.

São muitas as razões pelas quais aceitamos.

São muitas as razões pelas quais não denunciamos.

Mas a razão do silêncio, em geral, encontra-se na cultura da violência, da objetificação da mulher.

Se ao invés de olhar com desconfiança e descaso para a vítima, não nos perguntarmos o que é que estimula um comportamento agressivo como este, algo em nós deve ser profundamente questionado. Se aceitamos o “revenge porn” – ou pornografia da vingança – que acomete principalmente a adolescentes e mulheres, algo está muito equivocado. Se não nos indignamos com o fato de que um vídeo de estupro seja compartilhado em redes sociais em troca de “likes” e visualizações, algo está extremamente fora de seu lugar.

A vítima do estupro coletivo do Rio de Janeiro tem 16 anos.

A violência sexual contra crianças e adolescentes é, infelizmente, cotidiana. Segundo o disque denúncia – em 2015 – foram, pelos menos, duas denúncias por hora. E é bom lembrar que estamos falando de denúncias. Os casos reais devem ultrapassar, e muito, tais estatísticas. Além de todas as consequências conhecidas – gravidez indesejada, possibilidade de contração de doenças sexualmente transmissíveis, o trauma psicológico, etc. – essas adolescentes têm de enfrentar isso durante um importante período de desenvolvimento de suas vidas. Interromper, ou violentar este processo, pode comprometer seu desenvolvimento emocional e social, em um momento chave para uma vida adulta plena e saudável.

Deixar de culpabilizar a vítima é o primeiro passo para tirar a violência sexual do manto da ignorância. Olhar para o problema, de forma objetiva, pressupõe o esforço de todos, de uma cultura de respeito, de igualdade. Porque não importa se são 1, 3 ou 30 homens. O que importa é que qualquer tipo de violência contra a mulher não seja mais admitido.

Rodrigo Santini

Diretor Executivo

Childhood Brasil

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