O abuso sexual de crianças e adolescentes na imprensa brasileira
Conheça as principais características dos casos de abusos sexual de crianças e adolescentes analisados pelos veículos de imprensa em 2018
Um levantamento realizado pela Ferba/Giusti para a Childhood Brasil analisou 933 reportagens sobre casos de abuso sexual de crianças e adolescentes, veiculadas entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2018, para contabilizar informações sobre esse tipo de violência ao longo do ano e como esse tema foi abordado pela imprensa brasileira. Com base nas informações publicadas, foram tabuladas indicações como: perfil do agressor; local; unidade federativa; gênero e idade da vítima entre outros.
Elaborada para destacar a importância de estatísticas e estudos sobre o assunto, a pesquisa encontrou dados semelhantes aos registrados no Disque 100, canal de denúncias de violações de direitos humanos, incluindo violência contra crianças e adolescentes, vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
As principais características do abuso sexual de crianças e adolescentes
Segundo o levantamento feito pela Ferba/Giusti para Childhood Brasil, apenas 16% dos agressores de abuso sexual de crianças e adolescentes são desconhecidos das vítimas – um dado que contraria o senso comum de que os agressores são, em sua maioria, estranhos. Na análise das reportagens veiculadas na imprensa brasileira em 2018, os familiares aparecem como os maiores agressores (37%), na somatória de casos praticados por padrasto, pais, mães, avós e outros parentes. Seguido por “conhecidos” da vítima, sem relação de parentesco, com 35% dos casos.
O estudo aponta que as meninas são as principais vítimas de abuso sexual (76%) dos casos. Já os principais locais onde ocorreram as violações são, pela ordem: casa da vítima (38%), casa do agressor (18%), não definido na reportagem (19%) e local público (14%). Outros locais citados pela imprensa foram escola, internet, trabalho, igreja, hospital e motel.
A região que concentra o maior número de casos reportados pela mídia é o Sudeste (27%), seguido por Nordeste e Centro-Oeste (21%), Norte (17%) e Sul (14%). Os cinco estados com maior incidência de notícias relatando abusos sexuais são: São Paulo (117 reportagens únicas), Minas Gerais (69), Mato Grosso do Sul (74), Mato Grosso (71) e Paraná (67).
A importância das estatísticas para enfrentar o abuso sexual de crianças e adolescentes
Hoje, o Brasil trabalha com dados descentralizados entre os sistemas de Saúde, Justiça, Segurança pública, Conselhos Tutelares, entre outros, o que dificulta a análise de dados de forma integrada. Recentemente, o estudo “Out of the Shadows Index” (Índice Fora das Sombras, em português), apontou que o Brasil ainda é considerado ineficiente quando falamos de coleta de dados e estatísticas sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes.
O ‘Out of the Shadows Index’ é um levantamento feito pela unidade de inteligência da revista ‘The Economist’, com o apoio da World Childhood Foundation, da Oak Foundation e da Carlson Family Foundation, que estudou como 60 países ao redor do mundo respondem à prevenção e enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes – em diversas categorias.
Apesar dos avanços conquistados nos últimos 20 anos, período em que a Childhood Brasil atua no país na proteção à infância e adolescência contra a violência sexual, o tema ainda é tratado como um tabu na sociedade e isso contribui para uma grande subnotificação de casos – estima-se que apenas 10% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes sejam, de fato, denunciados às autoridades.
Somando-se a esse cenário, a descentralização dos dados entre os diferentes sistemas de proteção – saúde, judiciário, segurança e outros – dificulta a compreensão da dimensão do problema e, consequentemente, a formulação de políticas públicas efetivas para o enfrentamento dessa violação de direitos.
O papel da imprensa no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes
O papel da imprensa é fundamental para trazer luz ao tema denunciando a violência contra crianças e adolescentes, incluindo a sexual; cobrando políticas públicas eficientes e informando à população sobre os caminhos para a prevenção, responsabilização do agressor e ações das instituições de proteção e atendimento às vítimas.
Se você é jornalista ou outro profissional da imprensa, confira algumas dicas de como abordar o tema da violência sexual contra crianças e adolescentes de forma ética, protetiva e responsável aqui.