Municípios do Litoral Sul de PE assinam pacto regional pela proteção da infância

As prefeituras dos municípios de São José da Coroa Grande, Barreiros, Tamandaré, Rio Formoso, Sirinhaém, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho assinaram o “Pacto Regional do Litoral Sul pela proteção de crianças e adolescentes” em um encontro promovido pela Childhood Brasil no Centro Recreativo de Sirinhaém (PE). O seminário “Fortalecimento das redes de proteção para o enfrentamento à violência doméstica sexual contra crianças e adolescentes” reuniu cerca de 350 profissionais do Sistema de Garantia de Direitos de sete municípios do Litoral Sul do estado. “Os sistemas de educação, saúde e assistência social podem ser parceiros na notificação da violência sexual e na prevenção”, disse Gorete Vasconcelos, Coordenadora de Programas da Childhood Brasil, na abertura do evento.

Todos os profissionais presentes já haviam participado de formações do Projeto Laços de Proteção, que integra as ações da Childhood Brasil em uma região considerada estratégica para um trabalho preventivo devido sua vulnerabilidade à exploração sexual – é uma região que reúne turismo de praias e amplo desenvolvimento econômico.

No seminário, especialistas em violência sexual apresentaram palestras inspiradoras e houve espaço para que cada um dos municípios participantes apresentasse um rápido diagnóstico local e um projeto de prevenção à exploração sexual de crianças e adolescentes. “Todos os projetos reuniram esforços dos profissionais de educação e do Sistema de Garantia de Direitos na construção de um trabalho único”, disse Madalena Fuchs, consultora da Childhood Brasil. “Essa iniciativa pioneira no estado de Pernambuco é o início de um caminhar.”

Algumas reflexões

Reconhecer o papel do educador no debate da sexualidade, estar aberto à escuta de crianças e adolescentes, trabalhar em rede e questionar valores culturais que permeiam o comportamento sexual em nossa sociedade foram alguns pontos-chave discutidos no seminário.

A socióloga Tatiana Landini, da Universidade Federal Paulista (Unifesp), lembrou que profissionais das áreas de educação e saúde devem estar atentos aos sinais revelados por crianças vítimas de violência sexual. Ela falou não apenas da obrigatoriedade da notificação, mas ressaltou a importância de fazê-la com responsabilidade. “Ela deve ser feita quando a suspeita for mais consistente, caso contrário, a criança pode ter traumas suplementares.”

A pedagoga Rita Ippolito, que também é consultora da Childhood Brasil, ressaltou o quanto o trabalho em rede, a intersetorialidade e o controle social estão juntos na prevenção da violência sexual. “A cultura da proteção da infância tem muitos protagonistas envolvidos, com características e competências específicas”, disse Rita. “Por isso, deve-se atuar em conjunto.”

Na apresentação do projeto Depoimento Especial, da Childhood Brasil, Benedito Rodrigues dos Santos fez um panorama sobre diversos tipos de escuta e qual é o papel de cada profissional junto à criança e ao adolescente. Com muita sensibilidade, sua fala trouxe o respeito em escutar a criança a falar no tempo dela, do jeito dela. Mostrou o papel de cada profissional no fluxo de notificação e trouxe alguns questionamentos: “Até que ponto determinados profissionais têm que ir mais a fundo em uma entrevista? E como se deve acolher a criança se há uma revelação?”

Muitas propostas de reflexões foram colocadas na palestra de Jorge Lira, coordenador do Instituto PAPAI, que tem como proposta pensar a paternidade na adolescência e a cultura machista – uma das situações em que a violência sexual acontece – a partir de outro ponto de vista. Jorge deixou uma provocação aos presentes: “como crianças e adolescentes podem se proteger sem parâmetros de educação sexual e de prevenção em saúde nas escolas?”.

Os desafios lançados tocaram os 350 profissionais que estiveram no seminário, que terão pelo menos mais dois anos para colocar em prática suas propostas apresentadas. O projeto Laços de Proteção continuará pelo menos até 2014. Gorete Vasconcelos conscientizou sobre a importância de acompanhamento e monitoramento dos projetos para que os resultados possam inspirar a criação de novas políticas públicas de prevenção no Litoral Sul de Pernambuco.

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