Meninas sem futuro: canção protesta contra exploração sexual infantojuvenil

Cantora e compositora Mona Gadelha - Crédito da foto: Helio Creston

Apenas Meninas
(Mona Gadelha /Moisés Santana)

Apenas meninas, quase mulheres
Mil Iracemas, sem eira, nem beira
Sem rastro, sem traços
De tantos quereres e tantos abraços
Pequenas cunhãs, nuas e plácidas
Chegaram tão cedo
Sem amanhã

Apenas rapazes, brancos de lã
Com suas asas, já não têm navios
Galegos em brasa, operários do amor
E suas roubadas
Cigarros e flats, pras índias espelhos
Colares, perfumes, tudo sabor

Apenas meninas, peitos pequenos
Mil Iracemas, sem eira, nem beira
Sem rastro, sem traços, de tantos quereres
E tantos abraços
Pequenas cunhãs, nuas e plácidas
Chegaram mais cedo
Sem amanhã.

A indignação transformou-se em arte. Inconformados em ver a comercialização de crianças, principalmente por turistas estrangeiros nas orlas das praias, a cantora e compositora cearense Mona Gadelha e seu amigo, o cantor baiano Moisés Santana, resolveram criar a música “Apenas Meninas”, do CD Salve a Beleza, lançado este ano. O protesto contra a exploração sexual de crianças e adolescentes  surgiu na forma de canção de ninar, para alertar a sociedade das “meninas sem amanhã” que deveriam ser cuidadas e “embaladas”, mas estão perdendo o futuro nas ruas de todo o país.

A canção compara as meninas à personagem Iracema, “a índia virgem de lábios de mel” do escritor José de Alencar – considerada símbolo da mulher brasileira, e mostra a erotização da criança e sua falta de perspectiva ao ser transformada em mercadoria.  “A delicadeza da canção visa retratar e alertar as pessoas sobre uma realidade cruel, porque se não cuidarmos dessas meninas, elas não terão o amanhã”. Mona frisa ainda que é muito difícil sair desta vida, devido à falta de perspectivas e de acesso à cultura e à educação.

A cantora defende que toda a sociedade pode colaborar com a inclusão social e proteção de crianças e adolescentes da exploração sexual, por meio da informação, da denúncia e de seu próprio trabalho. Preocupada com as populações de risco, ela também atua na coordenação do projeto de oficinas de audiovisual, do Ponto de Cultura Memórias do Olhar, na ONG Reino da Garotada de Poá.

Em sua opinião, é muito complicado erradicar o crime da exploração sexual de crianças e adolescentes porque está associado a redes de prostituição e tráfico. No entanto, a esperança é que já existem muitas organizações realizando trabalhos sérios, promovendo a dança, o teatro e a música entre crianças e adolescentes e desenvolvendo grandes talentos. “As meninas têm que viver como criança, brincando e estudando, e não sendo obrigadas a antecipar a vida adulta com agressão e violência”.

Artigos relacionados