Jovens mães constroem suas próprias casas na Associação Lua Nova
Elas geralmente chegam grávidas na Associação Lua Nova, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, muitas vezes vítimas de estupro de familiares próximos ou depois de terem passado grande parte de suas vidas consumindo ou vendendo drogas, sofrendo abusos e exploração sexual nas ruas. Na instituição, as adolescentes em risco social começam a aprender como reconstruir suas vidas, tijolo por tijolo. Recebem afeto, acolhimento e atenção para conseguirem superar traumas e dar aos seus filhos o amor que nunca tiveram. Dividem as tarefas domésticas com as outras colegas, voltam a estudar e são capacitadas para gerar renda. Depois de um tempo, elas são também estimuladas a construir sua própria casa.
No projeto “Empreiteira-Escola”, criado em 2004, as jovens mulheres são formadas para trabalhar na construção civil, aprendendo a fabricar tijolos ecológicos, levantar sua própria casa e pintá-la. Hoje, muitas delas já são proprietárias e capacitam outras mulheres para o trabalho, além de vender tijolos e ajudar a construir outras casas. “Percebi que tínhamos muito a desenvolver quando visitei uma mãe, ex-residente da Lua Nova e vi que ela trabalhava e cuidava de seus filhos, mas morava em condições inaceitáveis”, afirma a fundadora do projeto Raquel Barros.
As moradias tem cerca de 45 m2 e levam de seis a dez meses para serem levantadas, por grupos de seis a dez jovens. O trabalho tem o apoio de instituições como o Senai e a Faculdade de Engenharia de Sorocaba.
As jovens atendidas na Lua Nova fazem parte de um déficit habitacional que afeta hoje 83,2% das famílias brasileiras que recebem três salários mínimos ou menos. A demanda por habitação cresce 5% ao ano, com a necessidade de cerca de 600 mil novas unidades. Além de proporcionar uma alternativa para as jovens terem sua casa própria, a “Empreiteira-Escola” quer transformá-las em agentes de transformação da realidade comunitária, gerando ao mesmo tempo trabalho e renda.
Em suas próprias casas, elas vivem com mais tranqüilidade e pode oferecer melhores condições para seus filhos. O projeto mostra que é possível erguer casas a um preço baixo sem perder qualidade e que também é capaz de refazer vidas. Morando em sua própria casinha, elas podem construir sua família e ter a chance da dar a seus filhos uma vida que nunca tiveram.