Jornalistas vencedores falam sobre o VI Concurso Tim Lopes
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“É importante capacitarmos jornalistas para falar adequadamente sobre um tema complexo e cheio de estigmas como a exploração sexual de crianças e adolescentes. Este é o primeiro passo: levar informação de qualidade para a sociedade”, diz Erika Kobayashi, coordenadora de Programas da Childhood Brasil. Foi com essa vontade que os jornalistas vencedores da sexta edição do Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo foram às ruas para produzir suas reportagens relacionadas ao tema.
Com proposta de reportagem premiada na categoria “Televisão”, o repórter Rodrigo Saccone viajou até Mato Grosso do Sul e investigou a relação entre a instalação de indústrias do setor sucroalcooleiro e a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Em uma apuração que durou cerca de um mês, Saccone ressalta que constatou o preconceito existente em todas as esferas da sociedade para abordar o tema, inclusive em setores que deveriam trabalhar pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes. “Na apuração para as matérias encontramos profissionais que negavam a existência da exploração sexual nas cidades investigadas, para logo depois constatarmos que o problema existia”. Para o repórter, a maior dificuldade encontrada foi o risco inerente ao lidar com um tema delicado e estar em contato com possíveis aliciadores de crianças e adolescentes.
Ao avaliar o resultado e o impacto do trabalho que realizou, Rodrigo afirma que as reportagens cumpriram o papel de denunciar e alertar a população sobre crimes que acontecem de maneira velada e que algumas vezes não são vistos como crimes. “Conseguimos abordar que é preciso planejar melhor os impactos da implantação de indústrias ou de grandes obras na vida das cidades. Sem planejamento, os impactos sociais se potencializam, sendo que o dano é maior entre crianças e adolescentes”, declara.
Maíra Streit, premiada na categoria “Mídia Alternativa, Comunitária e Online”, realizou seu trabalho em Jaci Paraná, um distrito de 20 mil habitantes, localizado a 90 km de Porto Velho (RO). A perspectiva de crescimento com a construção de novas usinas hidrelétricas do rio Madeira, não só aumentou o fluxo migratório, mas também agravou a situação social de comunidades ribeirinhas. Além de conviverem com o tráfico de drogas e a grande violência, também têm suas crianças e adolescentes submetidos à exploração sexual.
Andi, Childhood Brasil e jornalistas vencedores
Ao realizar o trabalho praticamente todo durante as madrugadas, Maíra ressalta o clima de insegurança e desconfiança com que teve que lidar para conseguir estabelecer um diálogo com as pessoas. Ela afirma, no entanto, que ficou satisfeita com o trabalho e recebeu o prêmio reconhecendo a responsabilidade que ele traz. “Acho que, mesmo com as limitações impostas pelo caminho, conseguimos apresentar uma reportagem fiel à realidade daqueles jovens. O mais importante é que foi um trabalho feito com total entrega e disposição”.
Para relatar os bastidores, as dificuldades, as expectativas e as conclusões desse trabalho, Maíra escreveu um Diário de Bordo e é também finalista do 34º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Por sua vez, a matéria vencedora da categoria “Mídia Impressa”, Quando a Infância Perde o Jogo, da repórter Juliana Braga, publicada pelo jornal Correio Braziliense, por exemplo, levou a CPI da Exploração Sexual a convocar o Ministério dos Esportes e a CBF para falarem casos de violência sexual ocorrido em escolinhas de futebol.
Sobre o concurso
Resultado da parceria entre a Childhood Brasil e a ANDI – Comunicação e Direitos, o prêmio ainda contou com o apoio do Unicef, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj).
A sexta edição do Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo premiou este ano seis projetos e concedeu Menção Honrosa a mais quatro. Ao todo, foram 45 projetos inscritos em cinco categorias: “Mídia Impressa”, “Rádio”, “Televisão”, “Mídia Alternativa, Comunitária e Online”, e “Categoria Especial” que este ano teve como tema “Exploração sexual de crianças e adolescentes no setor turístico brasileiro”.
As melhores propostas de reportagem receberam uma bolsa para a execução do trabalho. Os vencedores também participaram de uma oficina de capacitação em São Paulo sobre abuso e violência sexual contra crianças e adolescentes.
Conheça os vencedores
Categoria Mídia Impressa
Juliana Fernandes Braga (Correio Braziliense – Brasília, DF)
Quando a infância perde o jogo
Categoria Rádio
Daniele Lessa Soares (Rádio Câmara – Brasília, DF)
A fragilidade violada – abuso sexual contra crianças e jovens com deficiência
Categoria Televisão
Rodrigo Kaiser Saccone (Grupo RBS – Porto Alegre, RS)
Amargo desenvolvimento – infância perdida
Categoria Mídia Alternativa, Comunitária e Online
Maíra Streit (Portal da Revista Fórum – São Paulo, SP)
Categoria Especial
Mauri Konig (Gazeta do Povo – Curitiba, PR)
Categoria Especial
Rosiane Correia de Freitas (Portal Teia de Notícias – Curitiba, PR)
O Sistema Nacional de Registro de Hóspedes e o abuso sexual de crianças e adolescentes
Menções Honrosas
Categoria Mídia Impressa
Marcionila Teixeira (Diário de Pernambuco – Recife, PE)
Categoria Mídia Alternativa, Comunitária e Online
Daniel Carvalho de Mello (Agência Brasil – Brasília, DF)
Categoria Televisão
Emanuela Rodrigues Palma (TV Rondônia – Porto Velho, RO)
Categoria Rádio
Luísa Brasil Magnani (Band News FM)