Falta de perspectiva e conflitos domésticos estimulam a exploração sexual infantojuvenil no Vale do Jequitinhonha

Fonte da imagem: Getty Images

Escassez de emprego e de lazer, baixa remuneração e violência doméstica colaboram para a exploração sexual de crianças e adolescentes no Médio Vale do Jequitinhonha, região semi-árida situada no norte de Minas Gerais, considerada uma das mais miseráveis do país. Esse é um dos dados constatados no Projeto 18 de Maio (em referência ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes), realizado pelo programa Pólos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O objetivo do levantamento é fornecer dados para o planejamento de ações de prevenção da exploração sexual infantojuvenil. “A pesquisa foi realizada em 2006, mas os dados continuam atuais e fizeram com que a questão da violência tivesse maior visibilidade na região, e instituições que não falavam sobre o assunto, começassem a discutir o problema”, afirma Fernanda de Lazari Cardoso, do Programa Pólos de Cidadania.

As crianças e jovens entrevistados (32 meninas e 2 meninos) com idades de 12 a 22 anos, provêm de famílias em situação pobre ou miserável e tendem a negar sua participação em situações de exploração sexual. A maioria tem uma relação violenta com os pais ou padrastos e iniciou a vida sexual em média aos 13 anos. No geral, apresentam baixa auto-estima.

Grande parte das vítimas exploradas segue as atividades da mãe, irmã ou colega mais velha. Há relatos em que o programa ocorreu dentro de caminhões, sendo que as crianças e adolescentes não ficam em pontos fixos da pista, mas pegam caronas para cidades próximas e retornam na mesma noite.

Nos municípios pesquisados, os locais mais propícios para a ocorrência da exploração são: postos de combustíveis, rodovia, praças, danceterias, clubes, shows, festas, hotéis, bares, pensões, cabarés, casas de prostituição e a própria rua. Na comercialização sexual, clientes oferecem dinheiro ou mercadorias como relógio, pulseira, cordão, sanduíches, cervejas, refrigerantes e até remédios em troca de uma noite. “Todo dia ele me dava quando eu precisava de remédio, quando minha irmã estava no hospital e minha mãe estava viajando, aí ele me ajudava”, relatou uma das vítimas de exploração entrevistadas.

As meninas também relataram que um dos poucos empregos existentes na região é o de empregada doméstica, mas que é marcado por violência, humilhação, desprezo, e desvalorização.

Realização da pesquisa

Equipes de dois a três pesquisadores fizeram cinco viagens para a realização de 34 entrevistas com crianças, adolescentes e jovens informantes de sete cidades (Araçuaí, Comercinho, Itaobim, Medina, Padre Paraíso, Ponto dos Volantes e Virgem da Lapa).

Mesmo com a intermediação de entidades comprometidas com a proteção e assistência a jovens (Conselhos Tutelares, Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente, associações comunitárias vinculadas ao Fundo Cristão, escolas públicas e ONGs), o acesso às informações foi trabalhoso, porque muitos entrevistados tinham medo e dificuldade de se manifestar sobre o tema. Em uma das entrevistas, quando perguntaram a uma das meninas o que ela pensava que o pesquisador tinha vindo fazer na região, ela respondeu: “Você quer nos tirar a vida”. E ele apenas esclareceu que gostaria de ouvir as histórias dela.

Depois da pesquisa realizada no Vale do Jequitinhonha, o grupo formou duas associações de artesanato em Medina e Padre Paraíso, para mulheres em situação de vulnerabilidade social e assessoraram um grupo feminino de cozinha comunitária em Ponto dos Volantes, além de trabalhar com o projeto Fortalecendo as escolas na rede de proteção a criança e ao adolescente, em Paraíso, Volantes e Itambacuri.

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