Estudo relaciona traumas vividos na infância com situação econômica de um país

As diversas violações de direitos contra crianças e adolescentes podem impactar o setor da saúde e a própria economia de um país. É o que mostra estudo do Centro Nacional de Defesa da Infância norte-americano (National Children’s Advocacy Center’s Foresic Interviewing of Children – NCAC), que analisou a questão para os Estados Unidos.

O custo estimado de cada criança ou adolescente vítima de violência para aquele País é de US$ 210 mil, o que contempla gastos com tratamento médico na infância e na vida adulta, além de educação e criminalização do responsável. “Nosso maior esforço hoje é ajudar a conscientizar a ampla sociedade dos impactos da violência e a pesquisa mostra que precisamos ter mais pessoas envolvidas com a causa”, afirma Chris Newlin, diretor executivo do NCAC. “Prevenir e tratar os casos de violência contra crianças e adolescentes é uma questão que pode ter impactos positivos sobre a economia e a saúde do país”, diz.

As adversidades na infância podem gerar consequências na área da saúde também. Aqueles que passaram por abuso sexual, negligência ou disfunção familiar apresentam índices mais elevados de doenças cardíacas e diabetes. Eles também tendem a ter mais doenças pulmonares (390%), mais depressão (460%), hepatite (240%) e maior tendência ao suicídio (1.220%).

Dados parecidos são encontrados também no Brasil. Em pesquisa da Childhood Brasil, “Vítimas da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: Indicadores de Risco, Vulnerabilidade e Proteção”, que avaliou o contexto de risco, vulnerabilidade e os indicadores de proteção para meninas e meninos envolvidos em situações de exploração sexual, 60% dos entrevistados já pensaram em suicídio, sendo que 58,1% efetivamente já tentaram tirar a própria vida. Dos que declararam já ter tentado suicídio, 20% o fizeram em razão da violência sexual sofrida.

Além disso, cerca de 30% das participantes meninas já passaram por pelo menos um episódio de gravidez. Da mostra total, 17% já perderam um ou mais filhos em abortos naturais (6%) ou provocados (11%). Apenas 5,8% delas vivem com seus filhos.

A pesquisa do NCAC leva em conta também as crianças que tiveram mães violentadas, algum membro da família usuário de drogas ou alcoólatra, prisioneiro, com diagnóstico de doença mental ou pais separados.

As crianças ou adolescentes que passaram por mais de seis tipos de adversidades ou maus-tratos na infância tendem a viver 20 anos a menos do que as outras pessoas. Os custos médicos das vítimas são 36% mais altos que os da média da população, especialmente em mulheres que foram abusadas física e sexualmente na infância.

Oficina de capacitação

O diretor executivo do Centro Nacional de Defesa da Infância dos Estados Unidos (NCAC), Chris Newlin esteve em Porto Alegre, em abril deste ano, treinando profissionais que trabalham com depoimento especial, promovido pela Childhood Brasil, com apoio do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Entre os dias 20 e 23 de agosto, o especialista volta ao Brasil para participar de seminário e capacitação na metodologia de escuta qualificada, dessa vez em Recife.

Hoje o NCAC integra uma rede de mais de 800 centros nos Estados Unidos e já capacitou mais de 70.000 profissionais, em todos os estados americanos e outros 20 países, para o depoimento especial.

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