Escritora que foi vítima de abuso diz que é possível superar o drama
Escrever é como uma terapia para a inglesa Toni Maguire. Autora do livro recém-lançado no Brasil “Não conte para a mamãe” (ed. Bertrand Brasil, 307 páginas), que mostramos aqui no blog, ela expõe em sua obra os detalhes de uma infância marcada por abusos.
Toni mora entre a Inglaterra e a África do Sul, e foi durante os preparativos para embarcar para o país africano que ela concedeu essa entrevista para a Childhood Brasil. Atualmente ela se dedica a escrever um livro de ficção. Seus outros livros, que ainda não foram publicados no Brasil, são “Nobody Came” (Ninguém veio), escrito com Robbie Garner, sobre a história de dois irmãos cruelmente abusados em orfanatos, “Helpless” (Desesperança), escrito com Marianne Marsh, que retrata a história de uma menina negligenciada pela mãe e explorada por um vizinho em quem confiava e de quem engravidou duas vezes, e “When Daddy Comes Home” (Quando o papai chega em casa), que conta sua própria trajetória de abusos de seu pai contra ela, de quem engravidou aos 14.
Sua obra versa sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes. É a oportunidade que a autora encontrou, segundo ela, para revisitar sua história e provar para si mesma que “é possível superar a maioria das dificuldades”.
Childhood Brasil – Você encontrou dificuldades no processo de produção do livro “Não conte para a mamãe”?
Toni Maguire – Esse livro demorou cerca de dois anos para ficar pronto. Foi muito mais difícil parar do que começar. Quando eu comecei a escrevê-lo eu não sabia digitar, muito menos usar um computador. Fui aprendendo ao longo do caminho.
CB – Como que os abusos que sofreu na infância afetaram seu relacionamento futuro com outras pessoas?
TM – A história do livro se deu na Irlanda nos anos 1950. A família do meu pai me renegou. A escola me expulsou e meus amigos foram proibidos de falar comigo. Como consequência eu tive colapso nervoso e, em seguida, deixei a Irlanda. Desde então, eu decidi que as pessoas queridas para mim deveriam saber o que aconteceu comigo e, dessa forma, minha história não causou efeito sobre as novas amizades.
CB – No seu livro, a senhora descreve detalhadamente como foi abusada por seu pai. Essas memórias ainda a acompanham?
TM – Essas lembranças raramente vêm à tona agora. Mas, quando vêm, eu me sinto triste.
CB – Seus livros estão dentre os mais vendidos da Inglaterra, assim com livros sobre o mesmo tema. Acredita que esse tipo de história chama tanta atenção dos leitores?
TM – A julgar por algumas das cartas que recebi, muitos dos leitores não tiveram uma infância boa. Livros como o meu fazem com que eles deixem de se sentirem sozinhos.
CB – Qual a principal mensagem que a senhora gostaria que seus leitores tirassem do livro?
TM – Que é possível superar a maioria das dificuldades.