Educação sexual deve estar no plano pedagógico das escolas
*Série sexualidade na escola
“A criança é sexual. O tempo todo ela está tentando descobrir sua sexualidade”, diz Gorete Vasconcelos, coordenadora de programas da Childhood Brasil. Segundo ela, a escola é uma porta de entrada para tratar de vários assuntos relacionados à sexualidade e essa abordagem deve acontecer desde os primeiros anos da educação infantil. Gorete afirma que a educação para a sexualidade deve estar presente nas diferentes disciplinas e ser atrelada ao projeto político-pedagógico das escolas. “A educação sexual deve ir além da anatomia do corpo humano. As escolas que trabalham com uma proposta de educação sexual trazem debates sobre namoro, sobre o “ficar”, por exemplo, e envolvem na discussão não apenas os estudantes, mas os familiares”, diz. “O professor precisa dar o devido valor a essa temática e a sua abordagem na escola, que deve ser transversal”.
Apesar de saber como seria o ideal, ainda não conseguimos alcançar essa perspectiva de educação para a sexualidade saudável nas escolas: “notamos que algumas escolas não entendem a temática da sexualidade, mais especificamente da violência sexual contra crianças e adolescentes, como um componente curricular. Alguns professores e algumas professoras dizem não se sentirem preparados para promover tal discussão”, diz a coordenadora do Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola (Gese) e professora da Universidade Federal do Rio Grande, Paula Regina Costa Ribeiro. Segundo ela, os professores ainda têm pouco acesso a um referencial teórico e sugestões de atividades sobre o tema.
“As crianças e adolescentes que lá estão inseridos são sujeitos que possuem uma sexualidade, ou seja, não são inocentes e assexuados, como muitos entendem”, complementa. “Outro aspecto que reforça a importância de discutir a sexualidade na escola é que os assuntos que envolvem essa temática, como os desejos, medos, afetos, conhecimentos, prazeres e ideias, estão no nosso dia a dia, na família, na mídia, na religião, entre outros espaços.”
Os especialistas, entretanto, afirmam que os mesmos tabus que existem na sociedade para lidar com o tema, são refletidos na escola. “Para trabalhar a educação para a sexualidade com as crianças e os adolescentes, o educador precisa trabalhar o tema consigo mesmo”, diz Gorete. “A escola, assim como a sociedade, ainda é conservadora”, complementa.
Escola e violência sexual – Odívia Barros, autora do livro Segredo Segredíssimo, afirma que a violência sexual também pode ser abordada em sala de aula com vistas à prevenção. Ela ressalta também a importância da escola na identificação de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. “O educador às vezes é o primeiro a saber quando há algo errado com a criança, pois a acompanha diariamente”, diz. “A criança que sofre abuso costuma não falar, mas denuncia o que está acontecendo, principalmente por desenhos ou por mudanças de comportamento. Por isso, o professor ou a professora tem condições de identificar o problema.”
Gorete ressalta que nesses casos solucionar o problema não é papel da escola, mas, sim, ao se identificar casos de violência sexual, deve-se dar encaminhamento para as devidas instituições.