Comunicação: ferramenta-chave para mobilização e conscientização

Há oito anos, o radialista Pedro Trucão aborda o tema da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias por meio do programa Globo Estrada, da Rádio Globo AM. Quando está no ar, ele dá dicas e conversa com os caminhoneiros e seus familiares de forma bem espontânea e direta. Desde março do ano passado, o assunto ganhou mais visibilidade, com o quadro Globo Estrada Na Mão Certa, realizado em parceria com a Childhood Brasil. “O motorista não é vilão e sim um parceiro na proteção dos direitos da infância e da adolescência e pode nos ajudar nas campanhas contra a violência sexual”, afirma Trucão.

O radialista mediou o painel “Importância da comunicação no enfrentamento da ESCA nas rodovias” do 6º Encontro Empresarial do Programa Na Mão Certa, que aconteceu no dia 22 de agosto em São Paulo e também contou com a presença de João Geraldo, editor da revista O Carreteiro; Graziela Potenza, editora da revista Caminhoneiro; e Erika Kobayashi, coordenadora de comunicação da Childhood Brasil.

Os veículos especializados têm ajudado no enfrentamento da exploração sexual nas rodovias, conversando com os cerca de 2,5 milhões de caminhoneiros do País. A revista O Carreteiro, há 30 anos em circulação, começou a publicar matérias sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes em 1995, mostrando que muitas das meninas exploradas haviam fugido de casa devido aos maus tratos. “Nesta época, mesmo sabendo do risco das blitze, muitos motoristas se envolviam com as garotas alegando estar cansados e precisando de carinho”, conta o editor João Geraldo. Outra situação muito comum constatada são as meninas enviadas pelos próprios pais para a exploração sexual nas rodovias, para que possam arcar com as despesas da casa. “Ainda hoje há motoristas que acham normal explorar meninas, porque consideram que elas que escolheram esta vida”, diz Geraldo. Com a revista, existe a oportunidade de desmistificar essa alegação e aprofundar o debate.

Erika Kobayashi, coordenadora de comunicação da Childhood Brasil

Na avaliação de Graziela, da revista Caminhoneiro, há 29 anos em circulação, o número de denúncias tem aumentado porque as pessoas estão perdendo o medo de falar e confiam mais no trabalho dos meios de comunicação e no Estado. “As pessoas costumavam jogar a sujeira debaixo do tapete, então as primeiras matérias publicadas eram tabu”, diz Graziela. A jornalista frisa que o tema da exploração sexual tem sido abordado com os caminhoneiros também nas feiras e eventos promovidos pela revista. Ela percebe o retorno positivo destas campanhas e textos publicados nas cartas de familiares de caminhoneiros.

Para que as ações dos veículos de comunicação e das empresas possam ser bem sucedidas ao falar de um tema tão delicado, a coordenadora de comunicação da Childhood Brasil, Erika Kobayashi, ressaltou a importância de considerarmos o caminhoneiro um verdadeiro agente de proteção nas ações coletivas de enfrentamento à exploração sexual.  “O motorista bem como o jornalista é um multiplicador de informações; ele está transportando informações”. Ela afirma que além do tom e linguagem adequada ao público alvo, é preciso, sobretudo, partir dos conceitos corretos. “Devemos evitar o sensacionalismo e ter muito cuidado com a exposição de imagens, nome e informações pessoais de vítimas”, disse na ocasião.

Artigos relacionados