Comércio sexual incentiva modificação corporal clandestina de meninos
O aliciamento de adolescentes pela internet estimula a transformação corporal ilegal para agradar a clientela formada por homens adultos. “Além do tráfico de pessoas, este é um problema de saúde pública, porque antes de completar o desenvolvimento físico deles, são injetados hormônios femininos ou aplicado silicone pelas chamadas bombadeiras (travestis mais velhos)”, afirma o psicólogo Marcos Nascimento, pesquisador na área de gênero e sexualidade, com doutorado em saúde pública.
Existem também os meninos que não mudam sua aparência e ficam nas ruas à espera da clientela masculina, mas tem aumentado cada vez mais a procura, nas grandes cidades, por garotos que realizam mudanças corporais. Eles começam colocando megahair e depois vão passando por outras alterações para ficar com uma aparência mais feminina. Estes adolescentes vêm de regiões muito pobres do Ceará, do Piauí e do Rio Grande do Norte, locais que não aceitam a homossexualidade e onde sofrem muita violência tanto da família quanto na escola. Esse fenômeno não é novo, a internet potencializa o aliciamento de adolescentes que já existia.
Hoje, se um menino procura os hospitais e consultórios oficiais querendo fazer transformações em seu corpo para se tornar mais feminino, os profissionais vão dizer que não podem dar nenhum tipo de orientação e o aconselharão a não fazer isso, porque faz mal para a saúde. “Eles acabam então ingerindo hormônios por conta própria ou vão em clínicas de fundo de quintal para fazer cirurgias, correndo até risco de vida”, afirma o psicólogo Ricardo Castro, coordenador executivo do Instituto Papai, de Recife, em Pernambuco. “Não há pesquisas científicas que auxiliem os profissionais de saúde neste sentido e há muito preconceito também”, frisa.
Para o especialista, é preciso debater mais o assunto e procurar ajudar estes adolescentes a serem aceitos em suas próprias comunidades, porque quando um homossexual tem vínculos com a família ou de alguma instituição ou serviço de apoio, dificilmente entrará para as redes de aliciamento.
Transexualidade permitida
A cirurgia para o transexualismo (mudança de sexo) hoje já é um procedimento legal em alguns hospitais do Brasil, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), quando o indivíduo tem uma identidade de gênero diferente da designada no seu nascimento e deseja viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Desde setembro de 2010, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou resolução sobre a assistência a transexuais no Brasil
A mudança só pode ser realizada a partir dos 21 anos e envolve antes análise criteriosa de uma equipe médica multidisciplinar, que segue uma série de protocolos, antes da cirurgia ou da ingestão de hormônios e medicamentos apropriados para cada biótipo e idade. O paciente e seus familiares passarão por atendimento psicológico antes e depois da cirurgia.