Casa do Zezinho: polo de prevenção à violência doméstica e sexual

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Ela tinha apenas dez anos, quando chegou para a tia Dag, fundadora da Casa do Zezinho, e afirmou decidida:
– Quero ser prostituta!
A educadora levou um susto, mas se conteve, porque sabia que se começasse a dar lição de moral não resolveria nada.
– Por que você está fazendo esta cara, nunca pensou também em ser prostituta, tia Dag?, desafiou a garotinha.
Tia Dag pensou naquele momento que precisava falar a mesma linguagem e ainda tentar convencer a menininha de que era possível ter outra perspectiva de vida.
_ Ah, mas ser prostituta no Capão, não dá nada não! Além de não pagarem nada, você vai morrer cedo. O bom é ser “puta” em Brasília, lá sim elas ganham bem. Mas para ser prostituta lá você tem que estudar bastante, falar outras línguas, ser universitária….
A garotinha cresceu, passou a interessar-se pelos estudos, formou-se e hoje é uma ótima dentista.

Essa história mostra a realidade de crianças e adolescentes que moram nos bairros de Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Jardim Ângela, na periferia da zona sul da cidade de São Paulo e proximidades. Essa garotinha teve a sorte de frequentar a Casa do Zezinho, espaço de aprendizado que atende crianças e jovens até 21 anos, que freqüentam escolas públicas da região.

A instituição não governamental hoje é um polo de prevenção à violência doméstica e sexual, com o objetivo de minimizar os conflitos entre pais, filhos e escola, de modo que as queixas de agressividade repentina e evasão escolar sejam superadas ao longo do projeto.

O sistema de avaliação dos meninos é realizado por meio de registros mensais em relatórios elaborados pela equipe de educadores e mediação pedagógica.

A fundadora da instituição, tia Dag, há 16 anos desenvolve ações também com os familiares para conseguir bons resultados, além de ter parcerias com o conselho tutelar, profissionais da área de saúde, escolas e equipe de educadores.

O estímulo para a exploração sexual e para o tráfico é muito grande em regiões de risco, como você os persuade a buscarem outros caminhos?
Digo que só os grandes sobrevivem no tráfico e os outros morrem muito cedo e eles me respondem que pelo menos morrerão feliz com um tênis de marca. Aí eu tento falar na linguagem deles, mostrando que vão roubar o tênis deles de qualquer forma, quando eles forem para uma cova rasa, e que eles têm opção de escolher.

Já cheguei ouvir frases de mães que incentivam a exploração sexual. Diziam para mim: “se tem que dar, que dê agora, para colocar dinheiro em casa” ou “aconteceu comigo aos 14 anos e eu estou viva”. Tento dizer para elas que não estão vivas, mas sobrevivendo. Eu pego casos muito difíceis, como o próprio pai ou padrasto mandando a criança comprar cocaína para ele. É uma miséria humana muito grande.

Quero mostrar que não é importante ter a roupa ou tênis da marca e os outros educadores também têm esta postura aqui dentro. Depois de um tempo, os valores destas crianças mudam e passam a fazer melhores escolhas.

Qual a forma de trabalhar a sexualidade e a questão da gravidez precoce?
Conversamos muito sobre sexualidade e fazemos dinâmicas em grupo nas quais simulamos que e a garota e o garoto ficaram grávidos. A gente faz eles carregarem o barrigão, vivenciarem o nascimento e amamentarem a cada três horas para ter noção na prática do que é isso. E eles dizem: tia Dag é bom a gente esperar a hora certa, porque é difícil mesmo cuidar de um nenê, né?

Como você age nos casos de desconfiança de abuso sexual?
Eu chamo a mãe aqui, vou até a escola, que na maioria das vezes nem sabe quem é o aluno. Dou apoio para a mãe, mesmo para aquelas que fingem não ver. Tento resolver primeiro com a família, porque podendo tratar dentro da própria casa é melhor do que ir para um abrigo. Temos aqui um grupo de terapeutas e também advogados, mas se o caso for muito grave, denuncio e aciono os juízes da infância e juventude.

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