“Camila, Camila” é utilizada em campanhas e sala de aula

Em entrevista para o blog da Childhood Brasil, o compositor e vocalista da banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa, falou sobre a origem e o conteúdo da música “Camila, Camila”. Sucesso na década de 80, a canção tem sido usada em cursos para jovens e educadores e em campanhas contra o abuso e a exploração sexual. Popular até hoje entre adultos e adolescentes, a música inspirada na violência sofrida por uma colega do grupo, foi assim chamada para preservar a identidade da vítima e também porque passava na época um filme argentino com este nome.

Na opinião de Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquíni Cavadão, que regravou a letra, esta canção é muito importante, porque existem ainda hoje muitas Camilas e ela “revela que a insegurança da adolescência tem expressão na música”. Ele conta que sempre gostou do tom confessional da composição e principalmente dos versos fortes: e eu que tinha apenas 17 anos, baixava minha cabeça para tudo. “Mesmo sendo difícil encontrar um arranjo com a nossa cara, pois os arpejos da canção eram muito marcantes, foi natural escolhê-la para um disco de regravações dos anos 80”.

A música é utilizada hoje como campanha pela prefeitura de Ibotirama, com apoio do governo da Bahia, para alertar sobre a violência sexual de crianças e adolescentes. Também tem servido para material didático em salas de aula para formação de jovens e educadores.  “A música apresenta várias possibilidades para trabalhar a temática da violência sexual em classe e, geralmente, uso dinâmicas de grupo, estimulando o foco dos participantes no olhar, porque a forma como enxergamos o mundo nos impede de enxergar algumas situações”, afirma a psicóloga e consultora da Childhood Brasil, Roseane Morais. Em sua avaliação, “Camila, Camila” faz tanto sucesso porque soube falar a linguagem do jovem e mostrar seus sentimentos e medos. “A canção faz refletir que viver a festa é muito bom, mas é preciso se cuidar, porque é um espaço vulnerável, onde existem outras possíveis intenções subjacentes de abusadores”, diz. “O jovem acaba, muitas vezes, entrando desprotegido em relações e exposto à violência, sobretudo sexual”.

Para Bruno Gouveia, a música ajuda a alertar sobre o problema, mas somente a disseminação da informação por vários meios faz a diferença. Em sua opinião, o mais importante a ser feito para evitar que existam outras Camilas é incentivar o dialogo e abrir as portas para que as vítimas possam revelar estes abusos. “Não é fácil, porque muitas vezes as crianças sequer sabem expressar os maus tratos, mas a sociedade tem o dever de acolher e acalmar quem sofre esse tipo de violência”.

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