Atlantica Hotels: referência internacional contra a exploração infantojuvenil
No escritório da Atlantica Hotels Internacional (AHI), localizado em Alphaville/SP, além dos prêmios recebidos pela empresa na área de responsabilidade social, chama a atenção uma bonequinha de pano, com cabelo de lã, vestindo blaiser – ela retrata a vice-presidente Dináurea Cheffins. Foi confeccionada por jovens mães da Associação Lua Nova, de Araçoiaba da Serra, um dos projetos apoiados pela empresa através da parceria com a Childhood Brasil. A Lua Nova é considerada referência nacional na prevenção ao uso de drogas, AIDS, exploração sexual e gravidez na adolescência, entre meninas em situação de risco social.
Em agosto deste ano, Dináurea apresentou nos Estados Unidos, a parceria exitosa com a Childhood Brasil, que foca a prevenção da exploração sexual infantojuvenil e promoção do Turismo Sustentável, servindo de modelo e inspiração para outras empresas do setor.
Hoje, cada vez mais empresas criam projetos de responsabilidade social, mas muitas se queixam da dificuldade de engajar os funcionários. Por que isso acontece?
Geralmente as empresas começam achando que sabem tudo sobre o assunto e acabam praticando somente assistencialismo. É preciso procurar a ajuda de instituições especializadas e fazer parcerias, porque eles dão todo o apoio para o desenvolvimento dos projetos, por conhecerem a fundo os problemas, terem pesquisas a respeito e todo o material necessário.
O dinheiro é muito importante para colocarmos muitos projetos em prática, mas é preciso ir além de somente angariar fundos. Não basta a empresa impor aos funcionários que colaborem com uma causa. É fundamental que todos entendam o porquê de ajudar. O envolvimento dos colaboradores ocorre somente quando ouvem histórias e se colocam no lugar das pessoas que enfrentam situações de risco, vivenciando esta realidade. É um trabalho de formiguinha e precisa envolver toda a rede, porque se um funcionário não entender, já prejudica toda a ação.
Como vocês conseguem engajar o funcionário?
Todos passam por um treinamento de conscientização da causa dentro da nossa Universidade Corporativa, com reciclagem a cada três meses. Uma das dinâmicas que tem dado mais resultado é quando dividimos os funcionários em grupos e pedimos para cada um deles dizer se já viu ou conhece alguma pessoa de sua escola, de sua família ou comunidade que tenha sido abusada ou explorada sexualmente. Muitas histórias são contadas e aí fazemos a pessoa imaginar como seria se ela mesma ou seus familiares passassem por esta situação e deixamos a mensagem: “se nós não queremos isso para nossa família e para nossa comunidade, também não queremos dentro de nosso hotel”. Quando vivenciam esta experiência e entendem isso, passam realmente a adotar a causa e proteger crianças e adolescentes.
Como funciona na prática esta proteção?
Por lei, crianças e adolescentes só podem ser hospedados se acompanhados dos pais ou com a autorização deles registrada em cartório. Os funcionários são orientados a relatar para o chefe se percebem alguma atitude suspeita. A camareira, por exemplo, observa se no apartamento há muitas fotografias, câmeras ou algo errado. A empresa precisa ficar atenta, inclusive no comportamento dos próprios colaboradores, porque caso perceba alguma coisa errada ou uma tendência para pedofilia, precisa encaminhá-lo para o devido tratamento psicológico.
Como vê a importância de empresas hoteleiras e de outros setores de turismo apoiarem a causa da proteção à criança e adolescente contra o abuso e a exploração?
Nosso grande sonho é fazer com que todo setor siga o nosso exemplo. No Brasil, o governo tem participado mais da causa nos últimos anos, mas os cuidados agora precisam ser redobrados com as Olimpíadas e a Copa do Mundo.
Evoluímos muito, porque antes nos espelhávamos em projetos do exterior, agora passamos o nosso know how e experiência aos Estados Unidos. Infelizmente alguns norte-americanos ainda acreditam que a exploração sexual só acontece em países pobres, mas as pesquisas mostram que este é um problema mundial.
Nosso objetivo é fazer um trabalho para disseminar a causa para os outros hotéis que somos franqueados e nos tornarmos uma força exponencial para salvar vidas. Salvar talvez seja muito pretensioso, mas transformar nós podemos!