Associação Lua Nova: afeto e moradia para jovens mães vítimas de violência sexual e seus filhos

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Com pouco mais de trinta anos, a psicóloga Raquel Barros já podia comemorar algumas vitórias. Tinha trabalhado com usuários de drogas em um projeto do governo do Estado em São Paulo e depois de formada na USP, resolveu aperfeiçoar-se em uma clínica italiana especializada na Villa Renata, em Veneza. Seu desejo, no entanto, não parava por aí. Ela queria mais: realizar o sonho de ter filhos e criar seu próprio programa de atendimento.

Como não conseguia engravidar, resolveu voltar para o Brasil com o marido e batalhar novos projetos. “Parecia tudo ótimo porque eu estava casada e tinha um cargo bem remunerado na Itália, mas acreditava que poderia ajudar aqui aquelas garotas que tinham a possibilidade de ter filhos, mas estavam com dificuldades para criá-los”, conta a psicóloga.

Do desejo da psicóloga de ser mãe, nasceu a Associação Lua Nova onde passou a cuidar de vários filhos, crianças de jovens mães vítimas de violência ou exploração sexual. Queria mostrar-lhes o quanto era precioso ter um bebê.

Localizada em Araçoiaba da Serra, a 123 km de São Paulo, a ONG já beneficiou mais de 3,5 mil pessoas. O principal objetivo do projeto, criado há 11 anos, é fortalecer o vínculo entre mãe e filho para uma vida em conjunto, oferecendo moradia, alimentação, atendimentos psicológico e pedagógico, além de trabalho e escola para jovens em situação de risco social. São meninas em média de 12 a 18 anos, que sofreram abuso, exploração sexual ou estiveram envolvidas com drogas.

São casos bastante delicados e que precisam de muita sensibilidade para serem abordados por Raquel e sua equipe de psicólogos e profissionais especializados. “Participei do aniversário da filha mais velha de uma das residentes – fruto de um estupro que a adolescente sofreu aos 11 anos. Aquela mãe que, quando chegou, odiava a sua filha, agora guardava dinheiro para comprar uma bicicleta, fazia salgadinhos, cantava parabéns. Todos nós choramos. Ali percebi que o caminho era aquele”, afirma Raquel.

Quando a Lua Nova completou apenas dois anos, Raquel já conseguiu duas grandes vitórias: a participação no prêmio Empreendedor Social e ter a notícia de que estava grávida de gêmeas. O ano do nascimento das filhas Giulia e Sofia, hoje com oito anos, foi também muito fértil, com a conquista do prêmio da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente. “Apostei no afeto, o primeiro ano foi difícil e parecia que entrava água no barco por todos os lados, mas a vontade de que não afundasse era tanta que surgiam idéias mirabolantes para superar os problemas”, diz Raquel.

Na Associação, as jovens mães solteiras aprendem a se ajudar para cuidar da casa, das crianças, trabalhar e estudar. Elas também passam por vários projetos: a oficina Criando Arte (fabricação bonecas e bolsas); Brindes da Lua (chaveiros, camisetas e outros fabricados de restos de tecidos); o Empreiteira Escola (construção de tijolos ecológicos e de suas próprias casas) e, a Panificadora Lua Crescente (pães, salgados, doces e bolos). A proposta da Associação é trabalhar a autoestima das jovens mães e que elas saiam da instituição tendo onde morar e uma forma de ganharem seu próprio sustento. “Vemos as meninas como nossas parceiras com grande potencial”, conta Raquel.

Atualmente Raquel confia tanto no trabalho realizado por sua equipe na ONG que pretende formar novas lideranças. “Já não me sinto mais muito mãe da Lua Nova, porque as jovens aprenderam e estão criando independência”, diz. “Meu desejo é que no futuro a associação seja cuidada pelas próprias meninas que já passaram por aqui”.

A Childhood Brasil vem apoiando diferentes projetos da Lua Nova. Conheça mais sobre os trabalhos realizados pela Associação no vídeo da Lua Nova.

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