Associação das Mulheres de Nazaré da Mata ensina jovens a participarem de políticas públicas em Pernambuco
Desde menina, a cientista social Eliane Rodrigues percebeu que alguns espaços ainda eram restritos para as mulheres e que era preciso vencer muitos desafios. Desde os 14 anos, quando começou a trabalhar no Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Nazaré da Mata, em Pernambuco, e viu que os homens não discutiam os direitos trabalhistas femininos, nem as questões sociais relacionadas com a família, começou a reunir-se com outras mulheres para mudar essa situação.
Algum tempo depois, ela foi demitida, mas não desistiu de seu projeto. Com o dinheiro do seguro desemprego, alugou uma sala em frente ao sindicato para reivindicar os direitos femininos e começou a oferecer alguns cursos sobre o tema. Com determinação, conseguiu, três anos depois, comprar o imóvel, onde funciona até hoje a Associação das Mulheres de Nazaré da Mata – Amunam. “Na época, uma jovem não podia almoçar sozinha ou sentar-se a uma mesa de bar que já era rotulada de prostituta”, conta a fundadora e coordenadora Eliane Rodrigues. “Mostramos que queríamos transformar esta história e estamos mudando”, diz.
Ela conta que, no início, promovia apenas cursos de corte e costura e pintura para chamar a atenção e trazer as mulheres para a instituição. Hoje, são mais focados em políticas públicas e violência sexual, inclusive contra crianças e adolescentes. “Um dos desafios foi saber como discutir estes assuntos polêmicos em uma cidade pequena, sem afrontar a religião e as outras pessoas”, afirma Eliane.
Criada em 1988, a Amunam é a primeira ONG, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, a lutar pelos direitos e pelo espaço das mulheres. Atua em 27 municípios do Estado e seu objetivo é incentivar a escolarização e levar educação, discutindo principalmente as questões de gênero, sexualidade, meio ambiente, cidadania, empreendedorismo, geração de renda e cultura para as jovens, adolescentes e seus familiares. Trabalha pela inclusão social das mulheres na sociedade e nos espaços de discussão e decisão de políticas públicas.
A Amunam tem desenvolvido vários projetos sociais, entre eles o Crescer Sabendo /Dando a Volta por Cima, que trabalha a prevenção e miniminiza a violência doméstica e sexual de crianças e adolescentes do município. É uma ação complementar à escola, para quem vive em situação de risco ou vulnerabilidade socioeconômica e estuda na rede pública de ensino. O Mulher e Governança, um desafio de tod@s promove e amplia a representação política feminina nos espaços de discussão e decisão de políticas públicas, nos Conselhos, Comissões municipais e reuniões da Câmara, integrando ações educativas, informativas e organizativas com base nos interesses de gênero das mulheres.
“Com a atuação nestes projetos sociais, temos conseguido minimizar os índices de violência sexual e doméstica, o uso de drogas e a exploração sexual infantojuvenil, além de incentivar o vínculo familiar estimulando a formação de cidadãs com consciência crítica”, afirma a coordenadora. Os programas são realizados em parceria com secretarias do Governo de Pernambuco e com apoio de instituições privadas e organizações como a Childhood Brasil.
A Associação tem também a Rádio Comunitária Alternativa FM, com cerca de 12 mil ouvintes por dia, para discutir os problemas locais, na qual a população interage e participa diretamente da programação. Um dos maiores destaques da ONG é preservar a cultura da dança dos Maracatus de Baque Solte, conhecido por Maracatu Rural e promover o grupo Coração Nazareno, único formado só por mulheres.
Além de executar projetos sociais, a Amunam articula parcerias entre os setores público e privado e a sociedade civil. Hoje, a associação é referência no Brasil e também para instituições internacionais. Em 2001, recebeu a visita de S. M. Rainha Silvia da Suécia, fundadora da Childhood, e tem conquistado vários prêmios como o Top of Mind e Itaú-Unicef.
Além dos projetos, a associação também tem algumas publicações como as cartilhas: Deixando Marcas; Educar para Transformar (ambas para capacitar profissionais que lidam com orientação de jovens e adolescentes); e Com a Cara e a Coragem (história dos primeiros oitos anos de conquistas e a implantação dos primeiros Projetos, que mudaram a vida de muitas mulheres nazarenas).