A cobertura jornalística da violência sexual exige cuidados específicos
De acordo com pesquisa da ANDI , a polícia é a principal fonte da imprensa para o desenvolvimento de reportagens sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. E apesar da cobertura ainda ser marcada por traços sensacionalistas, são cerca de seis mil notícias por ano sobre o tema na agenda midiática. Ou seja, muitas reportagens ainda citam o nome da vítima, divulgam fotografias que promovem a erotização da criança, revelam a sua identidade ou trazem detalhes dispensáveis do ato de violência.
O jornalista e consultor da ANDI, Carlos Ely, afirma, entretanto, que as matérias vencedoras dos concursos Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, prezam por maior qualidade, com diversidade de fontes e cuidado dobrado para não desrespeitar a criança, vítima de violência sexual. Este ano, o concurso exigiu que as entrevistas de vítimas só sejam realizadas quando forem indispensáveis ao processo de apuração, para evitar a exposição desnecessária.
Segundo o especialista, o assunto é bastante delicado e os jornalistas precisam tomar muito cuidado para não revitimizar a criança ou adolescente, nem colocá-la em situação de perigo. Ele cita o caso de uma matéria na qual os repórteres precisaram solicitar o serviço de proteção da testemunha, antes de divulgar as informações fornecidas pela vítima.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA recomenda que todas as formas de divulgação devem ser evitadas. É preciso tomar cuidado para não expor meninos ou meninas a qualquer tipo de risco, vexame ou constrangimento, independente de serem agente, vítima ou testemunha.
Investigar a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes requer planejamento, cuidado e segurança. Hoje, a exploração sexual infantojuvenil envolve redes criminosas complexas, que incluem diversos atores da sociedade. Antes dos repórteres começarem uma investigação, devem garantir a segurança da equipe e quando o repórter estiver em campo, é preciso comunicar seus passos para a redação.