Por que é importante escutar e acreditar nas crianças?
Resumo: Pesquisadores e especialistas ressaltam a importância de escutar e acreditar nas crianças, reconhecendo-as como sujeitos de direitos com opiniões válidas, necessárias e importantes. Essa escuta deve ser sensível, empática e respeitosa, proporcionando um ambiente seguro para que eles possam se expressar livremente. A valorização das suas vozes fortalece a autonomia e a autoestima, além de garantir sua participação nas decisões que afetam suas vidas.
“As crianças têm um cérebro maravilhoso. Temos nossas próprias opiniões e só porque somos crianças não significa que tudo o que dizemos é bobagem”
– Alba, 13 anos, da Espanha, ouvida pelo estudo Small Voices, Big Dreams 2019: Violence against children as explained by children
Escutar e acreditar nas crianças é algo fundamental para a garantia de seus direitos e para seu desenvolvimento pleno. Esse processo envolve uma escuta atenta, sensível e respeitosa na qual as crianças são reconhecidas como um sujeito de direitos. Isso significa considerar suas palavras, sentimentos, gestos e até seus silêncios, pois elas têm uma visão única do mundo e estão em constante desenvolvimento.
Escutá-las verdadeiramente é uma prática que exige atenção e disponibilidade afetiva. Não pode ser apressada ou superficial, mas deve ser carregada de empatia e respeito pelo universo das crianças, reconhecendo suas individualidades. Ouvi-las envolve a compreensão de que estão em uma fase de descobertas e que suas opiniões e expressões merecem ser valorizadas e levadas em consideração.
Adriana Friedmann, antropóloga, pedagoga e criadora do Mapa da Infância Brasileira e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento, apontou em entrevista para o Portal Lunetas, que a correria do cotidiano é uma das responsáveis pela automatização da comunicação com as crianças.
“Se os adultos – pais, mães, cuidadores e educadores – compreenderem a importância de um olhar, de uma palavra ou de um gesto verdadeiro para com as crianças com quem convivem, já abrirão as primeiras possibilidades para a escuta infantil”, enfatiza.
A escuta sensível também envolve a criação de espaços seguros e de confiança, onde as crianças se sintam à vontade para se expressar de forma autêntica. Mais do que isso, praticar a escuta é garantir que elas participem das decisões que afetam suas vidas, reconhecendo-as como atores sociais ativos. Escutá-las é, assim, uma forma de fortalecer a autonomia e autoestima, além de promover uma participação efetiva na sociedade.
É algo tão importante que é até um direito reconhecido na Convenção sobre os Direitos da Criança. Adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 20 de novembro de 1989, o tratado é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal, assinado por 196 países, incluindo o Brasil. O artigo 12 estabelece:
“Os Estados Partes devem assegurar à criança que é capaz de formular seus próprios pontos de vista o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados a ela, e tais opiniões devem ser consideradas, em função da idade e da maturidade da criança.
Para tanto, a criança deve ter a oportunidade de ser ouvida em todos os processos judiciais ou administrativos que a afetem, seja diretamente, seja por intermédio de um representante ou de um órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional”.
Apesar de tudo isso, metade das crianças entrevistadas Small Voices, Big Dreams 2019: Violence against children as explained by children disse que, em seu país, os adultos não escutam suas opiniões sobre questões importantes para elas. Assim, estão negligenciando algo que 90,2% delas consideram a coisa mais importante que os adultos podem fazer para acabar com a violência contra as crianças: amá-las mais e ouvir o que elas têm a dizer.
“Ouçam-nos. Porque muitas pessoas pensam que, quando você é criança, sua opinião será ridícula, sem sentido ou não significará nada, mesmo quando é uma boa ideia, porque como você é criança, sua opinião não conta”, pediu Lucía, da Espanha, ouvida pela pesquisa.
Por fim, uma das conclusões do estudo evidencia que elevar as vozes das crianças, ouvir suas contribuições e tratá-las como participantes ativos com plenos direitos será crucial se quisermos fazer um progresso real na criação de um mundo para as crianças livre da violência.
“Precisamos ser ouvidos. Nossa voz é importante”
– Noemí, 12 anos, de Honduras.