Rádio Margarida: ônibus cultural leva nova perspectiva para crianças da Amazônia

Ônibus Rádio Margarida

O velho ônibus amarelo batizado de Rádio Margarida lembra o veículo do filme Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues, no qual artistas mambembes abandonam a vida que não deu certo no Pará em busca de novas perspectivas.

Eles percorrem o país, fazendo espetáculos para a população mais humilde, com a caravana Rolidei. Como no filme, o ônibus Margarida sai também do Pará, com artistas ambulantes, em busca de regiões de difícil acesso. A diferença com a ficção é que o Rádio Margarida não leva apenas diversão e entretenimento. Seu objetivo é oferecer educação, cultura e novas oportunidades para crianças e adolescentes se desenvolverem em suas próprias comunidades.

Tudo começou com o sonho do assistente social paulista Osmar Pancera. Ele queria utilizar sua experiência acadêmica na Universidade Federal do Pará, levando arte, música, teatro e cinema para regiões que não tinham acesso à riqueza cultural presente apenas nas grandes capitais. “Eu tinha terminado o mestrado em saúde pública em Cuba e quando fui morar em Belém tomei um choque cultural e percebi que precisava fazer algo além da pesquisa”, diz Osmar Pancera. Quando encontrou o ônibus, em 1991, foi amor à primeira vista, e após dois meses de restauro, o veículo do período da Segunda Guerra, estava pronto para sua jornada cultural.  Recebeu o carinhoso nome de Rádio (para referir-se à transmissão de arte, educação e cultura) e Margarida (em homenagem à mãe do criador).

A primeira iniciativa foi um convite da prefeitura de Belém, para atuar na ilha de Mosqueiro, no evento Rádio de Ilha. “O projeto nasceu da necessidade de ir ao encontro da população das áreas periféricas”, diz Pancera. Com a ajuda de educadores, locutores, jornalistas, poetas, palhaços, teatro de bonecos, e alguns recursos de som, o ônibus (muitas vezes carinhosamente chamado de Margaridinha pelo seu dono) veiculou informações educativas, spots e músicas. As apresentações encantaram os moradores da região e no ano seguinte, o projeto ganhou uma sede no Centro Artístico Cultural Belém Amazônia.

De lá para cá, a Rádio Margarida não parou mais de cumprir sua missão de levar arte e cultura. Realiza projetos, campanhas, eventos e pesquisas voltadas para a educação, saúde, meio ambiente, cidadania, arte, cultura e comunicação social, utilizando peças teatrais, radionovelas, spots de rádio, jingles, filmes, jogos, cartilhas e livros. Suas ações são voltadas principalmente para o atendimento e melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes na Amazônia.

O velho ônibus foi fundamental para muitos projetos como, por exemplo, desenvolver a campanha contra hanseníase no município de Marituba, levando cinema móvel, teatro de bonecos e muitas outras atividades lúdicas e educativas para informar a população e diminuir a proliferação da doença.

Com apoio da Childhood Brasil, a Rádio Margarida realizou o Projeto “Navegando Direitos – Em defesa de crianças e adolescentes na Amazônia”, com o objetivo difundir uma cultura de enfrentamento à violência doméstica e sexual contra a criança e adolescente, desenvolvendo tecnologias de informação e comunicação áudio visuais materializadas em vídeos de sensibilização, spots e radionovelas educativas. São produtos com distribuição e acesso gratuito para os agentes sociais do Sistema de Garantia de Direitos e agentes de comunicação, na Região Metropolitana de Belém. Muitos dos trabalhos da Rádio Margarida são reconhecidos e premiados por todo o Brasil e até internacionalmente.

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