Livro alerta para não silenciar diante de abuso sexual
Depois de abusar da filha, o pai sempre a lembrava que era para manter “o nosso segredo”. E foi assim que a família mantinha o mito de uma “família feliz”, como Toni menciona diversas vezes no livro. Tanto os abusos quanto a dinâmica da família, formada pelo casal e por sua filha única, são contados por Toni. A solidão da menina ao mesmo tempo em que fez ela ter dificuldades de fazer amigos, contribuiu para que se tornasse uma grande leitora. Era nos livros que ela encontrava um respiro para uma infância marcada não só pelos abusos, mas por sadismo, violência física e assédio moral.
O silêncio tomou conta de si, assim como o desespero toda vez que ouvia o pai chegar em casa e a ordem de fazer um chá para ele. Essa era a senha para o início de mais um momento de terror, de abuso. Quando Antoinette ficou grávida do pai, aos 14, ela achou que finalmente o inferno que havia vivido por mais de oito anos tivesse chegado ao fim. Estava enganada. Conforme seu pai sempre a advertia, era para ela se manter calada, pois “se soubessem a culpariam e a deixariam de amá-la”. E foi isso o que aconteceu. Apesar de o pai ter sido preso, o estigma e a culpa foram depositados na menina. Ela perdeu amigos, foi expulsa da escola e rejeitada pela família.
Quando seu pai saiu da cadeia, ele voltou a morar na mesma casa que ela e a mãe, que não fez nada para protegê-la. Antoinette foi, então, levada para um hospital psiquiátrico de onde saiu tempos depois. “Ela o amava mais”, conclui a hoje Toni, que por anos bloqueou a imagem da mãe ouvindo o relato de seu primeiro abuso sofrido. E se ela conseguiu superar a infância perdida, o livro retrata uma mágoa que vai existir para sempre: sua mãe morreu sem nunca ter pedido perdão à filha. Porém foi no enterro da mãe, que ela também enterrou Antoinette, o fantasma de sua infância, que finalmente descansou.
Livro: Não conte para a mamãe
Autora: Toni Maguire
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 307
Preço: R$ 29